Alex Linhares é professor de História da rede pública da cidade de Bocaiúva, norte de Minas Gerais, e faz parte da militância do PT. “Eu me identifiquei com o Lula pela minha realidade. Fui filho de um trabalhador rural. Minha mãe é doméstica, sempre trabalhou em casa de família. Minha tataravó foi agregada de um político que era um coronel, minha bisavó vivia não de um salário, mas sim de um farelo de milho, do qual se fazia angu de abóbora para 12 crianças”, explica o professor ao traçar as raízes de sua família. Quem contou tudo isso para ele foi sua avó, que também era doméstica e cujo salário era praticamente, segundo ele, restos de comida e um quarto para morar.
Sua mãe casou com um trabalhador rural e teve cinco filhos. Alex conta que seu pai trabalhou muito para ele poder estudar. Em certo momento, Alex sentiu a necessidade de complementar os estudos e falou com seu pai sobre isso. “Virei pro meu pai e falei assim: ‘pai, eu tô querendo fazer faculdade’. Aí ele chegou e falou assim: ‘vai lá e a gente vai ajeitar o que a gente pode fazer, né’”, declara o professor que também diz que não foi nada fácil a trajetória de estudante universitário que se iniciou em 2004.
“A gente passou muita dificuldade. Quando foi na faculdade, eu me cruzei realmente com o Lula”. Entrando numa faculdade particular há 40 quilômetros de sua cidade, seu pai lhe deu um pouco de dinheiro e ele foi pagando o resto. Alex deixou de comer muitas vezes para poder estudar. “Em 2005 eu estava para trancar meu curso. Cheguei lá na secretaria de finanças, cheguei perto da secretária que chama Núbia e falei ‘Núbia, tô querendo trancar minha matrícula’. Na hora ela chegou e falou assim: ‘Nossa, você vai trancar e cadê a sua rescisão de contrato?’”.
Ele, que não estava entendendo o porquê da rescisão, pediu explicações. Devido ao seu bom desempenho em sala de aula, Alex tinha conseguido sua bolsa pelo ProUni. “Eu pensava que a pessoa tava fazendo onda com a minha cara. Na verdade, foi um presente da política de Lula para mudar a minha realidade”, completa.
Jaqueline Mendes Rabelo é educadora infantil de Igarapé e não gostava do Lula de jeito nenhum e menos ainda dos militantes: “Com meus 24 anos de idade eu acreditava que os outros partidos socialistas, que eu achava que eram socialistas, que eram bons (...) e eu via a militância como algo muito ruim. No meu coração, eu queria ajudar, eu era solidária. Mas eu estava do lado errado.”.
Quando via a militância lutando pela justiça no trabalho e falando no Lula ela repudiava porque achava que os militantes eram desocupados. “Quem é esse Lula, gente? Que raiva desse homem. Para que ele fica parando e fazendo greve?”, se perguntava, julgando que os militantes fossem de quadrilha, baderneiros.
Ao longo da trajetória eleitoral de Lula, Jaqueline nunca votou nele. “Eu falava que ele não ia ganhar, em nome de Jesus”, ri Jaqueline. De tanto tentar e não ganhar, ela começou a ponderar: “Ah, esse cara podia ganhar uma eleição, mostrar que ele é ruim, sair logo e nunca mais ser candidato a presidente.”. Na primeira eleição de Lula, ela votou na direita. “Coxinha trouxinha mesmo”, ela brinca.
Mas daí emociona-se quando fala dos primeiros anos de mandato do presidente. “Quando eu vi que Lula estava transformando a vida das pessoas, e eu via as coisas se transformando em volta, as pessoas necessitadas melhorando de vida, aí eu abri meus olhos e o coração, me transformei totalmente numa pessoa de amor ao Lula”, explica a educadora, em lágrimas.
Mikail Coser carrega em seu nome a homenagem que sua mãe fez a Mikhail Gorbatchov. Sua irmã se chama Raíssa, o mesmo nome da esposa do líder soviético. “Minha mãe era uma comunista nata”, explica o gastrônomo capixaba da capital.
Filho de um metalúrgico com uma militante do movimento por moradia, Mikail morou em São José dos Pinhais até o ano de 1999, quando sua mãe ganhou uma ação judicial e ele e sua irmã foram morar com a mãe em Colatina, no interior do Espírito Santo. “Encontrei minha mãe em uma situação paupérrima”, diz o militante que vende camisetas na Vigília Lula Livre e que na época teve que vender balas nos transportes públicos para complementar a renda da casa em que morava com a mãe e a irmã.
Um ano depois da primeira posse de Lula na presidência, sua mãe morreu e eles foram adotados pela enfermeira chefe que cuidava do hospital em que sua mãe estava internada. “Isso mudou minha vida completamente”, ele relata. Depois disso, Coser foi estudar em uma escola particular e percebeu também a mudança de vida de outras pessoas de classe mais baixa ao redor.
“O assalariado conseguiu ter poder de compra e eu comecei a perceber esse movimento, mesmo estando em uma outra situação”, diz. Quando houve o rompimento das barragens em Mariana, ele que já era militante pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) percebeu com seus companheiros o caos que se tornaria a vida das pessoas atingidas pela tragédia depois do golpe.
Ele explica que o projeto popular para o Brasil vinha avançando e segurando o fascismo. Em 2016, quando se deu de fato o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff e o MAB estava no início dos processos contra a Vale, iniciaram-se as agressões físicas de policiais militares aos militantes do movimento.
Em uma das ocupações, a Secretaria de Assistência Social, Mikail foi preso numa ocupação sem maiores motivos. De acordo com ele, foi ali que se deu conta de como um governo de esquerda faz falta na defesa de direitos. “As pessoas, elas têm Deus como salvação e em termos de política social a gente tem o Lula”, completa.
Edição: Tayguara Ribeiro