Somente depois de assistir a um seriado americano, já aos 17 anos, o jornalista Patrick Lima entendeu que o desconforto que ele sentia com seu corpo desde a infância era devido a sua condição de pessoa transgênero.
O que faltava para aquele menino, ainda visto como menina, eram referências de outros homens trans que pudessem ajudá-lo a entender a si próprio.
Não que essas pessoas não existissem, mas até hoje a invisibilidade dos homens trans na sociedade é grande.
No entanto, depois que as portas foram abertas por figuras como João Nery, uma geração jovem tenta mudar isso, especialmente neste 28 de junho, Dia do Orgulho LGBT.
Para o professor de educação física Leonardo Peçanha, a visibilidade é necessária para que as necessidades dessa população também sejam reconhecidas.
As mais urgentes estão na área da saúde, já que o principal serviço de atendimento a pessoas trans do Rio de Janeiro não recebe novos pacientes há alguns anos.
De acordo com Leonardo, a falta de acolhimento impede as pessoas trans de passarem pelos processos de adequação corporal de forma segura, além de afastá-las dos serviços de saúde, em geral.
Com a suspensão de novos atendimentos no Hospital Universitário Pedro Ernesto, o único serviço público disponível no Rio é o Instituto de Endocrinologia e Diabetes, que oferece hormonização para pessoas trans, mas não faz nenhuma cirurgia de adequação de gênero.
De acordo com a defensora pública Letícia Furtado, as ações na Justiça para a realização dessas cirurgias encontram ainda mais entraves no caso dos homens trans.
Uma alteração importante ocorrida há poucos dias e que trouxe esperança foi a retirada da transexualidade do rol de transtornos mentais, na Classificação Internacional de Doenças.
O pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública, da Fiocruz, Luiz Montenegro reconhece que este é apenas um primeiro passo, mas que pode levar a mudança de postura no futuro.
Outra importante conquista obtida este ano foi a autorização dada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para que pessoas trans retifiquem seus documentos diretamente no cartório, sem a necessidade de uma ação judicial.
Se isso tivesse ocorrido antes, Patrick não teria aguardado mais de três anos para obter sua nova identidade, colecionando constrangimentos e oportunidades de trabalho perdidas por causa da transfobia.
Mas para que o serviço seja realmente acessível, os estados precisam padronizar o procedimento em seus territórios uma vez que, por enquanto, na maioria deles a decisão de fazer ou não e quanto cobrar ainda está a cargo de cada titular.
Edição: Radioagência Nacional