A comunidade escolar do conjunto de favelas da Maré realizou nesta quarta-feira (27) uma manifestação no Ciep Operário Vicente Mariano em memória do estudante Marcos Vinícius, de 14 anos, assassinado na semana passada durante uma operação conjunta da polícia e das forças armadas na Maré.
Durante o ato, que reuniu estudantes de várias escolas da região, professores e os pais de Marcos Vinicius foi lançado um abaixo-assinado para cobrar das autoridades policiais e militares o cumprimento de uma instrução normativa elaborada em agosto do ano passado pela Secretaria de Segurança e pela Secretaria de Educação que cria condicionantes para evitar riscos a estudantes em operações, como a não realização em horários de entrada e saída dos alunos.
O protocolo foi lançado após a morte da menina Maria Eduarda, de 13 anos, dentro de uma escola em Acari, na zona norte do Rio. O professor de história João Roberto Silva Souza, que já foi professor de Marcos Vinícius, explica a urgência do cumprimento da instrução.“Essa regulamentação estabelece que dentro do horário escolar não pode haver operação. A morte do nosso aluno ocorreu exatamente porque esse protocolo não foi cumprido. A gente quer que o interventor cumpra a lei. Não aconteceu só com nosso aluno, tem acontecido em várias outras comunidades, inclusive em comunidades que não tem a cobertura midiática que a Maré recebe”, explica Souza.
Ele fala também sobre a dor e o trauma pelos quais passam a comunidade escolar da Maré.“O clima é ainda de sofrimento. Nós temos, por exemplo, alunos que tem medo de sair de casa, de ir para escola. Uma espécie de trauma pelo que aconteceu. A ideia de que pode acontecer com eles também. Essa certeza de que pode acontecer com eles está fazendo com que eles não queiram ir para escola. Agora estamos com esse problema novo, temos que convencer esses alunos a irem para a escola", declara.
Durante o ato, os participantes realizaram um abraço ao Ciep. A manifestação contou com a presença do Secretário Municipal de Educação, Cesar Benjamim. Na última segunda-feira (25), uma reunião entre organizações que atuam na Maré, a Anistia Internacional e a chefia da Polícia Civil terminou com o compromisso da Polícia em elaborar um protocolo para utilização de helicópteros em operações, já que diversos vídeos de moradores denunciaram tiros sendo disparados da aeronave durante a operação, que além de Marcos Vinícius deixou outros seis mortos.
A polícia afirmou também que vai realizar uma reprodução simulada da morte do estudante, que estava a caminho da escola quando foi atingido. A investigação do caso, a cargo da Delegacia de Homicídios, ainda não concluiu a origem do disparo.
Edição: Brasil de Fato RJ