Com a palavra de ordem “nem um a mais”, estudantes e organizações da sociedade civil começam nesta sexta-feira (15) uma jornada de atos pelos Estados Unidos para exigir mudanças na legislação de controle de armas e chamar a população a se registrar para votar nas eleições do país. A primeira manifestação ocorre na cidade de Chicago, em uma tradicional marcha pela paz que marca o final do ano letivo e o início das férias de verão no Hemisfério Norte. Até o fim do mês, mais 16 atos estão programados e, até agosto, a jornada deve chegar a 50 paradas em mais de 20 estados.
Liderada por estudantes secundaristas e apoiada pela sociedade civil, a Marcha Por Nossas Vidas surgiu depois de um dos maiores massacres em escola da história dos EUA, quando, no dia 14 de fevereiro, um atirador matou 17 pessoas na cidade de Parkland, na Flórida. Desde então, os estudantes começaram uma imensa mobilização nacional, com atos, protestos, vigílias e audiências públicas para exigir um controle maior e mudanças na legislação do armamento, não só no estado, como também em todo o país.
“Bem-vindos à revolução”, resumiu o estudante Cameron Kasky, no ato que marcou um mês do atentado. O secundarista é sobrevivente do massacre da Flórida e fundador do grupo Never Again MSD.
O movimento exige a obrigatoriedade de verificação ampla e universal de antecedentes criminais para qualquer pessoa que compre armas, a digitalização do banco de dados do órgão responsável pelo controle de armas de fogo, a proibição da venda de carregadores de alta capacidade e fuzis de assalto semiautomáticos, além de financiamento para pesquisas sobre a "epidemia da violência armada" no país.
Entre outras demandas, o movimento também exige o desarmamento de todos os condenados por violência doméstica – atualmente, a posse é liberada em alguns casos. “O Congresso precisa agir para acabar com as brechas na lei que permitem a posse de armas de fogo por namorados que cometem violência, indivíduos condenados por perseguir vítimas e pessoas sujeitas a ordens judiciais de distanciamento [para proibir o contato com vítimas], além de tornar obrigatória a entrega das armas desses criminosos”, explica a organização em seu site.
“Quando o povo em todo o país se mobilizou na Marcha Pelas Nossas Vidas, há pouco mais de dois meses, mostramos aos nossos políticos que nos recusamos a aceitar a violência armada como um problema sem solução”, afirma o movimento. “Agora é hora de transformar nossa energia em ação”.
Mobilização nacional
A jornada nacional deve percorrer mais de 20 estados, principalmente as cidades onde aconteceram ataques recentes de atiradores. Além de atos e audiências públicas, serão realizados mutirões para registrar eleitores em diversos pontos dos EUA. O movimento também denuncia políticos e candidatos nas eleições legislativas que recebem financiamento da indústria armamentista do país.
Nesse sentido, a jornada acontece em um momento importante para pautar o pleito de novembro, quando mandatos no Senado, na Câmara e em cargos legislativos e executivos estaduais serão renovados. O avanço da legislação de controle de armas enfrenta o lobby poderoso da Associação Nacional de Armas (NRA, na sigla em inglês), que injeta quantias exorbitantes de recursos em campanhas de candidatos que defendem a legalidade irrestrita da posse de armas de fogo.
Edição: Pedro Ribeiro Nogueira | Versão em português: Aline Scátola