Machismo

Mulheres, na Paraíba, exigem retratação pública de apresentador de TV e emissora

Movimentos feministas realizam ato em emissora de televisão contra discurso misógino do apresentador Sikêra Júnior.

João Pessoa (PB) |
A rapper Kalyne Lima foi xingada por Sikêra Jr. por ser mulher e denunciar o discurso machista do apresentador do Cidade em Ação.
A rapper Kalyne Lima foi xingada por Sikêra Jr. por ser mulher e denunciar o discurso machista do apresentador do Cidade em Ação. - Heloísa de Sousa

“Mexeu com uma, mexeu com todas”, esse foi o recado dado nas ruas de João Pessoa, nesta última sexta, dia 8 de junho, contra o apresentador Sikêra Júnior, do programa Cidade em Ação, veiculado pela emissora de televisão Arapuan e exibido para toda a Paraíba. 
O movimento feminista e de mulheres do estado saiu em defesa da rapper Kalyne Lima, que não concordou com os comentários machistas, feitos por Sikêra Júnior, no programa Cidade em Ação, no dia 5 de junho. Durante o programa exibido ao vivo, o apresentador, ao comentar a prisão de uma mulher, disse que as mulheres que não pintam as unhas são sebosas e ainda teceu comentários discriminatórios em relação à mulher em questão, ao dizer que a mesma era cheiradora de pó, jumenta, vagabunda e que ela deveria cheirar água sanitária na cadeia e ter “um rodo bom para lavar a cela, aprender a lavar e ser dona de casa”. 

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 Mulheres fazem ato em frente a emissora de televisão./Angelina Oliveira

Discordando deste tipo de tratamento direcionado à mulher, Kaline Lima fez uma postagem em sua rede social criticando o posicionamento do apresentador. Este, então, a ofendeu ao vivo no programa, no dia 6 de junho, dizendo que a jornalista e rapper era mal amada, que o marido havia a deixado porque não aguentou ela, que mulher chata termina sozinha e que ele nada tinha a ver com o fato dela ter ficado obesa e inventado de ser cantora. 
Essa postura misógina, veiculada ao vivo em rede televisiva, gerou uma grande inquietação na sociedade pessoense e, especificamente, nas mulheres e feministas.
“Eu já vinha a um bom tempo me incomodando com a postura e agressividade das falas de programas policiais como este e quando vi que nessa última semana, ele [Sikêra Júnior] ditando regras sobre como as mulheres devem se comportar, que a unha da mulher tem que estar pintada, que ela tem que estar depilada porque senão ela é sebosa, isso me indignou profundamente, então eu fui externar isso na minha rede social.”, desabafou Kaline Lima.
Esta indignação, levou o movimento feminista e setores organizados de mulheres, em João Pessoa, a organizarem um ato contra o discurso misógino e discriminatório à condição feminina, em frente à TV Arapuan, no mesmo horário de exibição do programa, que é veiculado ao vivo, no horário do meio dia. 

Com cartazes produzidos durante o ato manifestantes repudiam discurso machistas de telejornal do meio dia. / Angelina Oliveira.


“Não é papel da mídia, nem da impressa tornar a violência contra as mulheres banal, e a fala dele não é dirigida só a mim, mas a todas as mulheres. Vamos mover tudo que for possível para que situações como estas não voltem a se repetir”, explicou Kaline Lima.
As mulheres pediram a retirada de Sikêra e exigiam conversar com o apresentador para pedir retratação pública e com a direção do canal de televisão, no entanto, Sikêra não se encontrava nas instalações da empresa. Segundo informações da emissora, o motivo da ausência do apresentador justifica-se pelo fato dele está gravando um filme, em São Paulo, com Danilo Gentili. 
Para Maria das Graças dos Santos, 56 anos, do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas, que estava no ato cobrando respeito do apresentador, esse tipo de programa policial sensacionalista só ocorre porque “a nossa mídia não tem o cuidado de colocar pessoas que represente o povo de verdade e além disso se eles tivessem formação e dignidade eles não falariam o que eles falam contra as mulheres”.
Ao pressionar um posicionamento da rede de televisão Arapuan, uma comissão de mulheres, representando o movimento feminista, foi recebida pela direção da empresa. “A pauta discutida foi a retratação pública da emissora e de seu funcionário e a abertura de espaço em sua programação, para fazermos o debate sobre a violação dos direitos humanos e das mulheres, além disso comunicamos que iremos dar prosseguimento a esta luta junto ao Ministério Público para que este fiscalize a concessão pública dessa emissora”, explicou Joana Darc, da Cunhã Coletivo Feminista.


Mulheres de diferente movimentos sociais estiveram presentes ao ato. / Angelina Oliveira.

Como resultado da ação, a empresa de comunicação assinou um termo de compromisso, onde se compromete apresentar uma retratação pública feita pelo próprio Sikêra Júnior, ao vivo, até o dia 2 de julho, no mesmo programa em que este violou o direito das mulheres de serem diversas e livres de enquadramentos machistas. Além disso, o movimento feminista irá dar prosseguimento a responsabilização de todas as emissoras de televisão, que tem concessões públicas, diante do Ministério Público, a cumprirem sua função social de informar e educar os telespectadores e não de incitar o ódio, a discriminação e a violência na sociedade.
 

Edição: Paula Adissi