Há 22 anos, Seu Ariulino Alves Morais, apelidado de Chocolate, é assentado no município de Imbaú. Ao ingressar no Movimento Sem Terra, em 1984, após passar por dificuldades como empregado na agricultura convencional, começou a tomar consciência do direito à terra e a importância da agroecologia. No dia a dia da luta e muitas vezes longe da família, fez dos registros diários os seus versos que deram origem ao livro “Vida, Luta e poesia”, lançado na 17º Jornada de Agroecologia.
“Até três anos atrás eu estava nas andanças junto ao Movimento e isso exigia de a gente ir anotando as coisas. Mas quando vi fui transformando minhas anotações em verso. Os companheiros liam e me incentivavam” explicou Ariulino. O livro foi resultado do incentivo dos amigos, família e do próprio Movimento Sem Terra. “ Eu escrevia sobre as nossas reflexões das nossas lutas pela terra. Aí vinha um camarada e dizia, se você ler bem, o Chocolate fala sobre o que é o Estado, sobre a elite”, comentou.
Para ele, a arte só tem sentido se baseada na realidade. Ariulino tem uma vida rica de experiências boas e ruins, foi professor de escolas do campo na época da ditadura militar, depois empregado em propriedades ligadas à agricultura convencional, até chegar ao Assentamento Guanabara, onde vive hoje plantando feijão, milho e arroz com mulher, filhos e netos. “A arte e cultura só tem sentido se nascida da realidade, se transformar as coisas em coisa bonita, transformar sofrimento. Ficar chorando não resolve. Tem poesias que eu bato na elite. Não adianta eu querer depredar o prédio do Sérgio Moro, então eu faço poesia para bater nele”, disse.
O livro com 117 páginas tem poemas sobre sua história de vida, saudades, mas principalmente sobre a terra, reflexões críticas sobre resistência e organização, além de outros temas referentes à conjuntura. No poema “ O nosso encontro de força e resistência”, Chocolate escreve “...o nosso estudo aponta que o caminho é longo para seguir, disse para nós não se iludir com programa eleitoreiro, temos que buscar mais parceiros para a construção do nosso projeto que não vai ser mais por decreto, mas pela luta do povo brasileiro. ”
Edição: Laís Melo