O Brasil é o país que mais mata travestis, transexuais e transgêneros com uma pessoa assassinada a cada 48 horas. Em 2017, foram 185 mortos, maior número já registrado pelo observatório de violência trans.
Os dados são do Dossiê: A carne mais barata do mercado, lançado no início deste ano, com dados do Observatório da Violência, mantido pelo site Observatório Trans.
Nesses seis primeiros meses de 2018, o país já contabiliza 71 assassinatos. Neon Cunha, mulher trans e ativista afirma que a 1ª Marcha do Orgulho Trans, ocorrida no centro da capital paulista, ajuda na disputa da sociedade para que as pessoas trans sejam vistas como pessoas com direitos, inclusive o direito à vida.
"Porque simplesmente a nós [pessoas trans] não é conferida a condição de humanas. Então, não dá para falar de alteridade e empatia quando nós não somos humanas".
A luta contra a invisibilidade e marginalização pautou inúmeras falas de homens e mulheres trans durante a marcha, que ocorreu no Largo do Arouche. Verônica Valentino, travesti e atriz, falou sobre a simbologia da Marcha partir desse lugar. "Um lugar onde várias foram exterminadas, várias morreram".
A necessidade da sociedade naturalizar e não estigmatizar a presença de corpos trans no espaço foi o ponto apontado por Jhulia Santos, travesti e arte ativista de Belo Horizonte, como um dos mais urgentes para a comunidade trans. Ele conta também como a luta das pessoas trans precisa levar em consideração a intersecção com outras pautas como a questão de classe e o racismo. "Além de travesti eu sou negra, e minha cor é o que chega primeiro e esses espaços sociais não foram pensados para mim também enquanto negra".
Além de pessoas trans, a marcha estava repleta de pessoas cisgêneras, ou seja, pessoas cujo gênero é o mesmo que o designado em seu nascimento havendo uma concordância entre a identidade de gênero de um indivíduo com o gênero associado ao seu sexo biológico e/ou designação social.
Muitos pais e crianças acompanharam a marcha como Carla Patrícia, mãe de uma mulher trans que se tornou militante da causa na cidade de Bauru/SP e criou o Grupo Nacional Mães Pela Diversidade. Ela destaca o quanto é essencial os pais se engajarem na luta.
"Essa marcha hoje tem uma importância muito grande porque isso é visibilidade, é a transformação de uma sociedade. A gente luta de forma diária porque não é só a trans, o trans, a lesbica e o gay, mas toda mãe e pai que apoia esse filho".
Depois de percorrer a Avenida São João, a marcha voltou ao seu ponto de partida no Largo do Arouche e contou com mais falas políticas e atrações musicais com a Mulher Pepita, Leona Vingativa, MC Dellacroix, Tiely Queen, Erick Barbi, Liniker, Johnny Hooker e a DJ Ledah Martins.
Confira abaixo algumas fotos.
Foto: Mídia Ninja
Pessoas de fora da cidade vieram também para marchar contra o preconceito. Foto: Juliana Gonçalves
Hayden, trans não-binário, presente na marcha. Foto: Juliana Gonçalves
Edição: Tayguara Ribeiro