Caminhoneiros de diferentes regiões do país paralisaram as atividades desde as 6h desta segunda-feira (21) em protesto contra o aumento dos impostos que incidem sobre o preço do óleo diesel.
O preço do combustível subiu 57,78% desde julho do ano passado, quando o governo alterou a política de reajustes por parte da Petrobras. Além de prejudicar os caminhoneiros, a alta do diesel tem reflexos sobre os preços de diversos produtos, inclusive alimentos, que são transportados até os consumidores por meio de rodovias.
A Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) cobra do governo a extinção da carga tributária que incide sobre operações com o diesel, entre elas as do PIS/Pasep e do Cofins. Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), atualmente, 43% do preço do combustível são relativos a esses e outros impostos, como o ICMS.
O presidente da entidade, José da Fonseca Lopes, destaca que as oscilações no preço do produto e a política de arrocho fiscal do governo golpista de Michel Temer (MDB) têm prejudicado fortemente a categoria.
“Isso é o que está acabando com o nosso setor. Nós não temos culpa e não queremos saber se o governo federal embute [muitos impostos] nos preços dos produtos pra tapar buraco deles”, critica.
O aumento penaliza diretamente trabalhadores como Walace Landim, que há 19 anos atua como caminhoneiro autônomo.
Ele conta que está parado há cerca de um mês por falta de dinheiro para fazer a manutenção do caminhão. O trabalhador destaca que, no passado, chegada a faturar cerca de R$ 1 mil em uma viagem, mas hoje, diante das dificuldades que se acumulam, o valor caiu para cerca de R$ 300, o que inviabiliza o trabalho.
“Meu caminhão está sem pneu; eu não tenho condições de colocar. Não tenho a dignidade do trabalho. Não tenho condições de levar minha família pra passear”, desabafa.
Paralisação nacional
Landim é um dos cerca de 600 caminhoneiros que se concentraram, nesta segunda, no município de Catalão (GO), às margens da BR-050, para protestar contra a política de combustíveis do governo.
A paralisação nacional tem concentrações em 17 estados, entre eles Mato Grosso, Goiás, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Ceará, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo e Paraná. Ao todo, há 89 atos e manifestações espalhadas pelo país, segundo dados da Abcam.
Ele ressalta que as dificuldades financeiras provocadas pelo aumento do diesel estimulam a adesão da categoria à paralisação.
“Hoje eu estou no limite e não sou só eu não; é a categoria. Está todo mundo na mesma situação”, destaca.
A Abcam, que representa cerca de 700 mil caminhoneiros autônomos, informou que, na segunda-feira anterior (14), enviou ofício ao Palácio do Planalto e à Casa Civil para pedir mudanças na política de combustíveis.
Além da isenção fiscal, a entidade pede que seja criado um sistema para subsidiar a compra de diesel pelos transportadores que trabalham de forma independente. A Associação afirma que deu início à paralisação por falta de abertura ao diálogo por parte do governo.
O presidente do sindicato destaca que os trabalhadores pretendem continuar parados até que seja aberta uma mesa de negociação.
“Só voltamos a trabalhar quando tiver assinado e carimbado um documento daquilo que for negociado. O governo vai ter que encontrar um caminho pra resolver isso”, afirma.
A reportagem procurou as assessorias de imprensa do Palácio do Planalto e da Casa Civil para tratar das reivindicações da categoria, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.
A paralisação dos caminhoneiros provocou reações por parte do Congresso Nacional. Os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), divulgaram que convocaram uma comissão geral (espécie de audiência pública) conjunta para o próximo dia 30. A ideia é debater saídas relacionadas aos preços dos combustíveis.
Edição: Diego Sartorato