Após fazer sucesso em festivais ao redor do mundo, o documentário “O Processo” estreia nesta quinta-feira (17) nas salas cinema de todo o país. Um dia antes, o Cine Odeon, no Rio de Janeiro, foi palco da pré-estreia do filme que narra os bastidores do golpe que derrubou a ex-presidente Dilma Rousseff.
Com a sala lotada, a exibição do filme foi seguida de um debate com a diretora do documentário, Maria Augusta Ramos; a juíza do trabalho e membro da Associação Juízes para a Democracia (AJD), Raquel Braga; a diretora da Escola de Comunicação da UFRJ, Ivana Bentes; e a integrante do coletivo Transforma Ministério Público, Daniela Mendes.
Autora da Trilogia da Justiça – com os filmes “Justiça”, “Juízo” e “Morro dos Prazeres” – a diretora Maria Augusta afirmou que em “O Processo” ela, de alguma maneira, continua utilizando o universo jurídico como base de suas reflexões críticas.
“Eu digo que o teatro da Justiça me instiga. Eu posso nesse teatro falar das relações de poder, contradições dos discursos, eu não preciso sair daquelas quatro paredes brancas para falar do Brasil”, explicou.
Para Raquel Braga, o filme dispensa comentários pelo apuro técnico e os prêmios que conquistou. Ela caracterizou o filme como uma matéria jornalística que os veículos oficiais à época não mostraram e também como um grande estímulo militante.
“De forma talentosa, o filme revelou o patético, resgatou a história atual do Brasil, sequenciou perversidades e iluminou falsas dúvidas. Pra nós que já sabíamos, os indignados, nós precisamos desse filme. Ele nos impulsiona para resistência, para resgatar o Brasil democrático”, disse.
Daniela Mendes ressaltou o valor da obra como um documento histórico. “É certo que a função da memória é esquecer. Os neurocientistas discorrem longamente sobre isso. Por isso a importância desse filme, que constrói uma narrativa forte, coerente e bela. E vai ajudar a construir a memória do povo brasileiro”, opinou.
Ivana Bentes fez questão de relembrar que o processo de impeachment de Dilma foi “novelizado” pelo Jornal Nacional e que o documentário rivaliza em sua linguagem com o discurso midiático.
“Se tem uma questão subdiscutida do processo, do golpe jurídico midiático, é um tipo de linguagem de que o filme se afasta de maneira radical, que é o sensacionalismo. O filme se posiciona com uma linguagem diametralmente oposta, é um filme sóbrio”, disse.
Com 2 horas e 17 minutos de duração, o documentário narra a crise política que afeta o Brasil desde 2013 sem nenhum tipo de abordagem direta, como entrevistas ou intervenções nos acontecimentos. Como definiu o crítico de cinema, Carlos Alberto Matos, “o horror político e judiciário é mostrado somente com suas próprias imagens e sons”.
Este já é o filme brasileiro mais premiado de 2018 no exterior. Ele venceu o prêmio de melhor longa-metragem internacional no Festival Documenta Madri, na Espanha, e no Festival Internacional de Documentários Visions du Réel, na Suíça.
O filme já havia vencido o prêmio Silvestre e o prêmio de melhor longa no Festival Indiel Lisboa, em Portugal. A obra estreou mundialmente no Festival de Berlim, onde foi ovacionada e ficou em terceiro lugar da mostra Panorama.
A partir desta quinta-feira (17), “O Processo” estará em cartaz em 60 salas de cinema de 24 cidades em todo o Brasil.
Edição: Jaqueline Deister