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EDUCAÇÃO

Em Cachoeiras de Macacu (RJ), projeto aponta os impactos da Ditadura no campo

A segunda etapa do projeto ‘Memórias das Lutas pela Terra no Rio de Janeiro’ começa em maio

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

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Primeira etapa do curso ‘Memórias das Lutas pela Terra no Rio de Janeiro’ realizada em 2017
Primeira etapa do curso ‘Memórias das Lutas pela Terra no Rio de Janeiro’ realizada em 2017 - foto: divulgação

A história dos conflitos e da resistência à Ditadura Civil-Militar no estado do Rio de Janeiro é desconhecida pela maioria da população. Municípios como Nova Iguaçu, Duque de Caxias e Cachoeiras de Macacu foram palcos de assassinatos, repressão, perseguição política e grilagem de terras no período de 1964 a 1988.

A pesquisa que revelou as marcas da Ditadura na região metropolita e serrana do estado foi realizada pela professora do curso de Pós-Graduação em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ),  Leonilde Mederios. Ao longo da investigação, a pesquisadora encontrou poucas referências documentadas sobre os conflitos e decidiu ir à campo para apurar as histórias que estavam esquecidas. 

Foi a partir deste processo e da inquietação de alguns moradores de Cachoeiras de Macacu, que desconheciam a história do seu próprio município, que surge o projeto ‘Memórias das Lutas pela Terra no Rio de Janeiro’. A primeira etapa da iniciativa composta de quatro oficinas mensais ocorreu em 2017 e atendeu 40 professores. A recepção do projeto foi positiva e um segundo encontro será realizado a partir do final deste mês.

“Nesta segunda oficina queremos chegar com um material final para os alunos. Um material enxuto, ilustrado e com uma linguagem que adolescentes de 14 a 15 anos leiam. Estamos interessados em ver como será esta segunda turma, porque na primeira, claramente os professores eram mais politizados , conheciam o debate e chegar na história local foi o novo, mas contextualizar na história brasileira, a ditadura e a justiça de transição não foi tão novo para eles”, destaca a pesquisadora.

As oficinas estão sendo elaboradas por professores de universidades públicas e pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) com o apoio da Secretaria de Educação do município de Cachoeiras de Macacu. O integrante do MAB, Silas Borges, afirma que um dos principais objetivos do projeto é resgatar o valor da terra para a população local.

“É de extrema importância que este projeto seja desenvolvido aqui na região. Conseguimos, a partir dele, conquistar os professores para a luta contra a barragem. Conseguimos mostrar para as pessoas a importância de se lutar por reforma agrária, pela água, pela terra, por uma agricultura saudável e por educação”, ressalta o agricultor.

Para Silas e muitos outros moradores de Cachoeiras de Macacu, o projeto ‘Memórias das Lutas pela Terra no Rio de Janeiro’ é uma ferramenta de conscientização, a partir do passado, sobre  os danos que a especulação indiscriminada dos bens comuns, como a água e a terra, pode gerar na sociedade.

*A pesquisa desenvolvida pela professora  Leonilde Mederios contou com a participação de uma equipe de 18 pessoas, entre pesquisadores e apoio técnico.

Edição: Vivian Virissimo