A história dos conflitos e da resistência à Ditadura Civil-Militar no estado do Rio de Janeiro é desconhecida pela maioria da população. Municípios como Nova Iguaçu, Duque de Caxias e Cachoeiras de Macacu foram palcos de assassinatos, repressão, perseguição política e grilagem de terras no período de 1964 a 1988.
A pesquisa que revelou as marcas da Ditadura na região metropolita e serrana do estado foi realizada pela professora do curso de Pós-Graduação em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Leonilde Mederios. Ao longo da investigação, a pesquisadora encontrou poucas referências documentadas sobre os conflitos e decidiu ir à campo para apurar as histórias que estavam esquecidas.
Foi a partir deste processo e da inquietação de alguns moradores de Cachoeiras de Macacu, que desconheciam a história do seu próprio município, que surge o projeto ‘Memórias das Lutas pela Terra no Rio de Janeiro’. A primeira etapa da iniciativa composta de quatro oficinas mensais ocorreu em 2017 e atendeu 40 professores. A recepção do projeto foi positiva e um segundo encontro será realizado a partir do final deste mês.
“Nesta segunda oficina queremos chegar com um material final para os alunos. Um material enxuto, ilustrado e com uma linguagem que adolescentes de 14 a 15 anos leiam. Estamos interessados em ver como será esta segunda turma, porque na primeira, claramente os professores eram mais politizados , conheciam o debate e chegar na história local foi o novo, mas contextualizar na história brasileira, a ditadura e a justiça de transição não foi tão novo para eles”, destaca a pesquisadora.
As oficinas estão sendo elaboradas por professores de universidades públicas e pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) com o apoio da Secretaria de Educação do município de Cachoeiras de Macacu. O integrante do MAB, Silas Borges, afirma que um dos principais objetivos do projeto é resgatar o valor da terra para a população local.
“É de extrema importância que este projeto seja desenvolvido aqui na região. Conseguimos, a partir dele, conquistar os professores para a luta contra a barragem. Conseguimos mostrar para as pessoas a importância de se lutar por reforma agrária, pela água, pela terra, por uma agricultura saudável e por educação”, ressalta o agricultor.
Para Silas e muitos outros moradores de Cachoeiras de Macacu, o projeto ‘Memórias das Lutas pela Terra no Rio de Janeiro’ é uma ferramenta de conscientização, a partir do passado, sobre os danos que a especulação indiscriminada dos bens comuns, como a água e a terra, pode gerar na sociedade.
*A pesquisa desenvolvida pela professora Leonilde Mederios contou com a participação de uma equipe de 18 pessoas, entre pesquisadores e apoio técnico.
Edição: Vivian Virissimo