Experiência mostra alternativa ao monocultivo de café e produção de leite que predominam no Sul do Espírito Santo
Entre os municípios capixabas de Guaçuí e São José do Calçado, uma experiência liderada por mulheres do campo vêm fortalecendo a produção agroecológica. Na divisa entre Espírito Santo e Rio de Janeiro, às margens do Rio Itabapoana, está o Assentamento Florestan Fernandes, conquistado na luta pela reforma agrária em 2003 pelo MST, o Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
Foi lá que surgiu o grupo de mulheres “As Camponesas”, que há cerca de três anos atuam conjuntamente e trabalham na produção de geleias, doces e licores. Uma das associadas, Marilza Carvalho conta que toda produção de frutas que serve para fazer os produtos agroindustriais é retirada do próprio assentamento.
“Nós pegamos as frutas no lote nosso, no terreno nosso mesmo e faz. O que colhemos lá é maracujá, acerola, manga, abacaxi (...) quando a gente não tem nos nossos lotes compramos das nossas outras companheiras também”.
A produção anda a todo vapor para atender a uma agenda de grandes feiras pelo Brasil. Nos próximos meses o grupo levará seus produtos para a III Feira Nacional da Reforma Agrária em São Paulo, além de outras feiras em Belo Horizonte, Vitória, Maricá e Rio de Janeiro.
“As Camponesas” também se preparam para dar início a uma nova agroindústria especializada em produzir polpa de frutas sem uso de agrotóxicos e outros produtos químicos. Com as instalações prontas, construídas por meio do Fundo Social de Apoio à Agricultura Familiar, esperam apenas a liberação da licença para começar a operar.
Dirigente regional do MST e integrante do grupo, Nelci Sanches explica que a fruticultura tem servido como uma alternativa à produção de café e leite que predominam nas grandes propriedades da região.
“Porque a fruta, além dela trazer um retorno econômico, ajudar as famílias, ela também tem uma grande responsabilidade na proteção do meio ambiente. Porque onde você tem um morro plantado com árvore frutífera, ele não degrada, ele se recupera. Porque não é o pé do boi pisando a terra, é a árvore ali protegendo, isso é importante para nós na agroecologia. A ideia nossa é que a agente produza essa frutas no modelo agroecológico sem o uso do agrotóxico para ter mais qualidade de vida”.
O grupo também vai voltar a vender pães para atender à demanda do programa de merenda escolar. Com as novas atividades pode aumentar o número de beneficiados. Atualmente a associação conta com cinco mulheres e o apoio de dois homens, todos moradores do assentamento.
As mulheres costumam trabalhar na produção da agroindústria duas vezes por semana, alternando com os dias de trabalho nas hortas e as vendas nas feiras nas cidades próximas.
Miliana Januário Coutinho afirma que além de ajudar como renda complementar das famílias, a agroindústria contribui para fortalecer a atuação feminina no assentamento.
“A experiência é muito boa, (...) a gente programa com as meninas e vem fazer a geleia, o licor, é uma expectativa muito boa pra nós. A gente coloca os papos em dia, às vezes fica uns dias sem ver uma a outra, aqui já unida, a gente já conversa aí uma chora no ombro da outra, é assim mesmo”.
Para Nelci Sanches, a experiência do grupo “As Camponesas” é prova de que com união as coisas podem dar certo.
“A agroindústria ajuda, ajuda a gente a processar nosso produto para não ter atravessador (...) Valeu a pena lutar pela terra, lutar pra ter uma vida mais livre. É uma sensação de liberdade. Eu falo pras meninas assim, a gente tem orgulho de dizer: nós somos os nossos patrões”
Edição: Daniela Stefano