Estética

Documentário “Quem te penteia?” fala sobre a estética nas periferias de São Paulo

Relações pessoais e econômicas que se estabelecem por meio do cabelo é o pontapé inicial do filme

Brasil de Fato| São Paulo (SP) |
Cláudia Borges, uma das entrevistadas para o documentário, trança cabelos desde os 12 anos
Cláudia Borges, uma das entrevistadas para o documentário, trança cabelos desde os 12 anos - Nina Vieira/Divulgação

O cabelo é, literalmente, o fio condutor da narrativa apresentada no documentário “Quem te penteia?”, que discute assuntos como ancestralidade, autoestima e economia solidária por meio de entrevistas com trançadeiras, cabeleireiros, barbeiros e moradores das quebradas, como são chamadas as periferias das cidades.

O vídeo foi produzido pela Zalika Produções, produtora audiovisual especializada em pesquisar e documentar a vivência da população preta e periférica. A realização foi financiada pelo VAI (Programa de Valorização às Iniciativas Culturais) da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de São Paulo e teve sua estreia no ultimo dia 16 de abril, na Galeria Olido, na capital.

Nina Vieira, produtora executiva que também assina a direção de arte, fala sobre o filme. "Quem tem penteia é um documentário sobre cabelo focado nos profissionais dessa área. O cabelo é o mote para a gente falar sobre estética e sobre as relações da estética com o bem-estar das pessoas e questões de identidades ligadas não só a raça, mas também as estéticas periféricas", explica.

O documentário foi gravado em bairros periféricos da capital paulista, como Capão Redondo, Jardim Mirim, Grajaú, Guaianazes e Itaquera.

Por meio dos depoimentos, a trama mostra como a estética ajuda na economia local das periferias, faz o debate sobre a crescente valorização e aceitação da estética negra e coloca o cabelo como porta de entrada para que pessoas negras comecem a despertar para a questão racial.

"As grandes lembranças de cuidado do cabelo de mulheres negras vem da infância, do cuidado da mãe, da relação com a irmã e avó. E o próprio corte chavoso, que usa muita navalha, tem muitas relações com expressões africanas, presentes no Brasil", conta  a produtora que pesquisa o tema há três anos.

Vinicius Rodrigues, conhecido como “Bom de Corte”, barbeiro há 4 anos em Guaianazes, destaca como foi participar do documentário. "Ah, me identifiquei primeiro com o pessoal que está elaborando o filme, três jovens negras, mais um mano negro, falei: ‘pô, tô em casa’, fiquei mais à vontade para gravar", lembra animado.

O processo de criação do documentário durou cerca de um ano e boa parte das funções técnicas foram desempenhadas por mulheres negras e periféricas da Zalika produções como Naná Prudêncio, Semayat Oliveira e Nina Vieira.

No documentário, é Vinícius que explica que o corte chamado de chavoso, aquele que se utiliza da navalha para estilizar, foi muito tempo associado à bandidagem e que hoje é incorporado também fora das periferias. A diversidade do filme é ressaltada como ponto positivo para ele. "Na periferia a gente tem muita essa parada de preconceito com o pessoal gay, com os cabelos afro, com várias paradas, e no filme não, ele demonstrou tudo, todo mundo teve seu espaço para falar", pontuou.

A partir de maio o documentário vai circular gratuitamente em espaços independentes e periféricos da cidade de São Paulo, além de ser exibido em alguns festivais fora do estado.

Edição: Diego Sartorato