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Missão 115, um documentário histórico que também ajuda entender os dias atuais

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Documentário sobre o atentado do Riocentro mostra que o episódio tem muitos paralelos com o momento atual da política brasileira
Documentário sobre o atentado do Riocentro mostra que o episódio tem muitos paralelos com o momento atual da política brasileira - Divulgação
A mentira prevalece e nesse momento acaba por gerar também monstruosidades

No Festival Internacional “É tudo verdade”, o público teve a oportunidade de assistir o importante documentário intitulado “Missão 115”, dirigido por Silvio Da-Rin, que conta a história de atentados terroristas, como o do Rio Centro, no início dos anos 80, que poderia ter ocorrido uma tragédia que tinha por objetivo continuar e até mesmo aprofundar a ditadura.

O então ditador, General João Batista Figueiredo, egresso do Serviço Nacional de informação, o famigerado SNI, preferiu não ir até as últimas conseqüências no sentido de apontar os responsáveis, que, sem dúvida, apontariam seus companheiros de serviço. Por sorte das 18 mil pessoas que foram ao Rio Centro acompanhar a apresentação de expoentes da música popular brasileira que lá se apresentavam em comemoração ao dia do trabalhador, em 1 de maio, a bomba explodiu no carro que conduzia os dois militares que fariam o serviço. Um deles morreu na hora e o outro ficou ferido sendo conduzido ao hospital Miguel Couto. O terrorista que sobreviveu acabou virando general que prestou serviço à corporação em Brasília.

O documentário de Silvio Da-Rin é importante não só por lembrar um fato histórico,como também, e principalmente, por remeter aos dias atuais em que um novo golpe ocorreu, também e com conseqüências nefastas para o povo brasileiro. Como na época do atentado terrorista ocorrido em 1 de maio de 1981, fatos são escondidos do público para evitar que o retrocesso que está a ocorrer seja dissecado pela opinião pública.

Quem assistiu “Missão 115”, que mostrou também outros atentados terroristas tramados e executados pela chamada linha dura militar pôde constatar como o próprio Estado terrorista executava o serviço e contava com a impunidade. Inicialmente, o governo Figueiredo tentava vender o peixe podre segundo o qual a responsabilidade era de “elementos subversivos”, ou seja, da esquerda. Mas essa versão mentirosa não colou, até mesmo entre o incautos e algum tempo depois tudo se esclareceu sendo comprovado que os atos terroristas eram de responsabilidade de figuras que circulavam no subterrâneo do regime e não queriam de forma alguma deixar o poder que lhes proporcionavam inúmeras vantagens financeiras.

O documentário apresenta também o depoimento do agente civil Claudio Guerra, recrutado pelos militares para realizar os serviços sujos do regime. Guerra que se converteu a uma religião pentecostal acabou abrindo o jogo e contando com detalhes como eram realizadas as ações terroristas.

Mas, como já foi dito, o documentário remete também aos dias atuais em que um governo golpista e ilegítimo assumiu o poder para levar adiante um projeto de interesse do capital financeiro e mentindo de forma descarada para iludir os incautos. Como na época do atentado terrorista no Riocentro, a mentira prevalece e nesse momento acaba por gerar também monstruosidades que desembocam, por exemplo, em milícias que atuam na calada da noite e são integradas por facínoras, muitos deles egressos de corporações militares, no caso estaduais, e que também contam com o fator impunidade.

Concretamente essas milícias não passam de produtos oriundos do Estado e que agem de forma criminosa com o objetivo de auferir lucros para os seus integrantes. Essa é a atual realidade existente não só na cidade do Rio de Janeiro como em outras cidades brasileiras, que só existem porque desde longa data o Estado não agiu como deveria para evitar o surgimento dessas aberrações.

Espera-se agora que o documentário “Missão 115” de Sílvio Da-Rin possa ser apresentado em circuito comercial normal para que o público brasileiro tenha acesso a histórias trágicas e que só foram desvendadas algum tempo depois de ocorrerem. No Brasil dos dias atuais em que militares de alta patente fizeram ameaças veladas aos Supremo Tribunal Federal no caso da decisão do habeas corpus em favor do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, é mais do que necessário apresentar as evidências que envolvem generais e civis que contam com a impunidade e seguem, como de 1964 a 1985, contando com a impunidade. Ou pode ser considerado normal nos tempos de hoje quando um militar de alta patente ameaça como uma intervenção militar se o STF decidisse pela concessão do habeas corpus em favor do Lula. E quem fez a ameaça segue impune, mas espera-se que em algum dia a verdade seja restabelecida e quem fez a ameaça devidamente enquadrado.

Não se pode admitir que ocorra o mesmo que ocorreu com a anistia promulgada por João Batista Figueiredo em que assassinos foram contemplados e permaneceram impunes, ao contrário o que aconteceu na Argentina e Chile, para não falar no Uruguai e mesmo nos criminosos condenados pelos crimes hediondos que fizeram durante a II Guerra Mundial.

Edição: Brasil de Fato RJ