No último final de semana, duas chacinas, uma na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro e outra no município de Maricá, na Região Metropolitana, deixaram um total de 13 mortos. As vítimas: jovens, negros e moradores da periferia. O genocídio da população negra tem sido alvo frequente de denúncias por instituições que lutam em defesa dos Direitos Humanos. Porém, é na fala dos moradores das comunidades que fica evidente que essa parcela da população continua a ser executada no estado mesmo após a intervenção militar.
Um morador que vive na Rocinha há 40 anos e que por questões de segurança não pôde se identIficar, contou que no sábado (24), quando ocorreu a chacina que deixou oito mortos na comunidade, o Batalhão de Choque da Polícia Militar desembarcou no túnel Zuzu Angel disparando tiros e causando medo e pânico nas pessoas que estavam na festa de um artista local. José ainda revelou que a população já fez denúncias para todos os órgãos responsáveis por apurar as violações de direito e violência policial, mas até o momento nada foi feito.
“Tem muita denúncia de morador no Ministério Público, muita investigação sobre violência policial na Corregedoria e não muda. Agora com a intervenção militar, implementaram uma lei em que qualquer coisa é desacato e ai você vai preso”, afirma.
O morador destacou ainda que já foi vítima de agressão por parte da polícia e que teme pela sua vida e de outras pessoas próximas que já sofreram ameaças. Para ele, a intervenção federal militar não trouxe nada de positivo para a Rocinha.
“A gente vive assustado, acuado dentro de casa, somos feitos de refém e não mudou nada. Em lugar nenhum está morrendo tanta gente quanto está morrendo na Rocinha. Isso está parecendo o que? Uma ditadura militar? Limpeza étnica? O que está acontecendo? Por que matam tanta gente e não prendem?”, desabafa.
Um dia após a chacina da Rocinha, a 60 quilômetros do município do Rio de Janeiro, na cidade de Maricá, cinco jovens negros foram executados na área de lazer do condomínio popular Carlos Marighella, no bairro de Itaipuaçu. A principal suspeita da investigação é que os jovens foram assassinados por milicianos que cobram por segurança na região.
João Carlos Lima que coordena a Secretaria de Participação Popular, Direitos Humanos e Mulher conta que os jovens executados integravam rodas culturais de hip-hop na cidade e também, duas das vítimas, eram militantes da União da Juventude Socialista (UJS), ligada ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB).
"Três desses jovens participaram ativamente de uma roda de rima, que tinha relação com a nossa Secretaria. Eles estavam fazendo o evento a cada quinze dias na Praça Central de Maricá e tinham começado também em Itaipuaçu”, ressalta.
Com relação a segurança do condomínio, construído a partir do financiamento do projeto Minha Casa, Minha Vida, onde ocorreu a chacina, o secretário destaca que a prefeitura não pode intervir dentro do conjunto habitacional, mas que está providenciando medidas para aprimorar a segurança no entorno, com a instalação de câmeras de segurança e guaritas na região.
Na segunda-feira (26), a Delegacia de Homicídios de Niterói divulgou a informação de que os cinco jovens assassinados não tinham qualquer envolvimento com o crime organizado. Segundo a investigação, os adolescentes foram executados no domingo (25) com tiros na cabeça.
Dados do Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência 2017, publicado pela Unesco, apontam que em 24 unidades da federação, a chance de um jovem negro morrer assassinado é 2,7 vezes maior do que a de um jovem branco.
Edição: Mariana Pitasse