Estudantes, trabalhadores terceirizados, servidores e professores da Universidade de Brasília (UnB) realizaram um protesto nesta segunda-feira (26) contra a ameaça de demissão de 270 funcionários do serviço de limpeza da instituição.
Segundo informações do Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília (SintFub), a previsão de desligamento consta num processo que tramita atualmente na prefeitura da UnB.
O dirigente Rogério Marzola, da coordenação da entidade, destaca que a universidade vive um processo de asfixia orçamentária desde a implantação do teto dos gastos públicos federais (Emenda Constitucional N° 95), aprovado em 2016. No ano passado, a instituição sofreu corte de 45% na verba de custeio, que é utilizada, por exemplo, para despesas com água, energia elétrica e limpeza.
“Nós achamos que é necessário, primeiro, lutar contra o corte orçamentário imposto pelo governo federal e, segundo, buscar outros meios dentro da instituição, mas em hipótese alguma cortar posto de trabalho”, disse o sindicalista.
Em clima de protesto contra a possibilidade de perda do emprego, os terceirizados paralisaram as atividades na manhã desta segunda. A zeladora Thaísa de Sousa, que trabalha há dois anos no serviço de limpeza, conta que está apreensiva diante do risco de corte.
“A gente se sente triste com essa situação. Tem muita gente que precisa [do emprego]. Lá fora está difícil de emprego. É complicado mandar esse tanto de gente embora. A UnB também precisa da limpeza”, desabafa.
A estudante Amanda Leal destaca a preocupação com a situação das trabalhadoras, que são maioria entre os funcionários da limpeza. Ela acrescenta que a redução do contingente de funcionários tende a impactar nas diferentes atividades acadêmicas, com prejuízos à manutenção de banheiros, laboratórios e salas de aula.
O contexto de restrição orçamentária já provocou outras demissões. No ano passado, a Universidade reduziu em 28% o contrato de limpeza. Com isso, a empresa terceirizada dispensou 132 funcionários.
“Os nossos próprios estudos são prejudicados frente a isso. É inadmissível, prejudica a própria produção científica da universidade”, considera a estudante.
O ex-funcionário Francisco Targino trabalhou na portaria da UnB e foi demitido em 2015, depois de um dos cortes promovidos pela administração. Atual membro da Central Sindical e Popular Conlutas, ele ajuda na mobilização dos funcionários e integra a Comissão de Estudantes e Terceirizados contra as Demissões, uma das frentes de resistência na universidade.
Ele conta que a instabilidade é uma das marcas do trabalho dos terceirizados, que tendem a ser mais penalizados nas relações de trabalho do que outras parcelas da população.
“A maioria é de mulheres, negros, explorados e sofridos. A parte que é demitida fica sem emprego. Quem fica é sobrecarregado, como, por exemplo, na limpeza, com um trabalhador fazendo o trabalho de três, quatro”.
UnB
Após o protesto desta segunda, os manifestantes conseguiram uma reunião com a Reitoria da UnB, que deverá instalar esta semana uma comissão de negociação para tratar do caso.
Em nota enviada à reportagem, a assessoria de imprensa da instituição informou que a Universidade está em negociação com a empresa terceirizada e que não há determinação para a demissão dos trabalhadores. Ainda segundo a assessoria, a decisão sobre o desligamento de funcionários não é da instituição.
Edição: Mauro Ramos