"Se alcançar cargo de governador, ele vai replicar o desastre que promoveu na cidade de SP", defende cientista político
Ainda quando era candidato à Prefeitura de São Paulo, João Dória, do PSDB, afirmou que não abandonaria o cargo para concorrer à outras ocupações políticas, caso fosse eleito.
O tucano ainda assinou, junto ao portal Catraca Livre, uma carta de compromisso com os paulistanos e as paulistanas, se comprometendo a terminar o mandato.
Porém, no último dia 12, Dória registrou sua pré-candidatura ao governo do Estado de São Paulo pelo PSDB. Neste domingo (18), ganhou as prévias no partido com 79,62% dos votos.
Vale lembrar que José Serra, também do PSDB, fez o mesmo em 2006, deixando o vice, Gilberto Kassab, no comando da cidade.
No quadro Fala Aí, a pergunta que veio das ruas foi justamente essa: a atitude de Dória em abandonar a Prefeitura de São Paulo para concorrer ao Governo do Estado é legal? E o que isso acarreta para a população da cidade? Confira:
"Meu nome é Aline, tenho 17 anos, não trabalho, sou estudante. Moro em São Matheus e queria saber como vai ser essa nova mudança do Dória para o governo. Ele vai abandonar a Prefeitura e ir para o Governo do Estado. Queria saber como que isso vai funcionar, se ele pode ou não pode."
Para responder, o Brasil de Fato conversou com William Nozaki, professor de Ciência Política e Economia da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).
"Olá Aline, meu nome é Willian Nozaki, eu sou professor de Ciência Política e Economia da escola de sociologia e política de São Paulo, a FESP, e a respeito da sua pergunta, sobre a saída do Dória da prefeitura de São Paulo, em primeiro lugar vale registrar que essa decisão não é ilegal. Não existe nenhuma restrição jurídica que impeça um prefeito de abandonar o cargo para concorrer a eleições. No entanto, ela me parece uma decisão imoral, sobretudo na medida que a gente considera o fato de que ao longo da campanha e do próprio início do mandato o prefeito João Dória se comprometeu a permanecer os quatro anos de cargo na Prefeitura e, portanto, toma essa decisão caminhando na contra-mão do próprio compromisso que ele estabeleceu com a cidade. E se lança a candidatura do governo do Estado, deixando o município de São Paulo com uma série de lacunas que dizem respeito a uma gestão ineficiente que foi implementada.
Posso te dar cinco exemplos. Quando a gente olha para a política de saúde do Dória, vai perceber uma diminuição da verba na saúde, no município de São Paulo, além da paralisação das obras de hospitais como o da Brasilândia e o de Parelheiros. Um conjunto de problemas também se apresenta na política de educação, onde ele apresentou propostas muito problemáticas e contestáveis, de colocação de propaganda no uniforme escolar, de fim do transporte para os alunos da rede pública, de proibição da repetição de refeições das escolas, além de ter cortado metade da verba do programa leve leite.
O conjunto de problemas se aprofunda quando olhamos para a área de direitos humanos, onde medidas como colocação de telas para esconder moradores de rua, ou mesmo o uso de jatos d'agua para expulsar a população em situação de rua da cidade também ficaram como marcas negativas deste governo, junto com a ação desastrosa na Cracolândia, que acabou criando no centro de São Paulo uma dispersão do número de usuários, sem resolver o problema.
Por todos estes motivos, me parece que muito embora não seja ilegal ele abandonar o cargo, além de imoral, sinaliza o tipo de gestão que ele realiza e deixa um exemplo de que se alcançar o cargo de governador, vai replicar o desastre que ele promoveu na cidade de São Paulo para o conjunto do estado."
Edição: Michele Carvalho