Rio de Janeiro

VIOLÊNCIA

Assassinatos de lideranças políticas aumentaram após golpe de 2016

A execução de Marielle jogou luz também sobre as dezenas de lideranças mortas no último período

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

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Segundo a Comissão Pastoral da Terra somente no campo, foram 63 assassinatos, em 2016, cerca de 65, em 2017, e aproximadamente 12 em 2018
Segundo a Comissão Pastoral da Terra somente no campo, foram 63 assassinatos, em 2016, cerca de 65, em 2017, e aproximadamente 12 em 2018 - Fernando Frazão/ Agência Brasil

O assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol) chamou atenção pela grande perda que representa sua morte. Marielle era jovem, negra, moradora de favela e havia ousado chegar ao parlamento municipal carioca, com mais de 40 mil votos. Além disso, sua morte também alertou para uma realidade gritante: o crime não foi um fato isolado. Após o golpe de estado instaurado no país, em 2016, diversas lideranças políticas e defensores dos direitos humanos estão sendo assassinados no campo e nas cidades.   

De acordo com dados parciais da Comissão Pastoral da Terra (CPT), somente no campo, foram 61 assassinatos, em 2016, cerca de 65, em 2017, e 12 em 2018. Se somadas as mortes nos centros urbanos, esses números crescem ainda mais.  Entre os mortos estão lideranças indígenas, quilombolas, comunitárias, sindicais e de trabalhadores rurais. 

Para Thiago Valentim, da coordenação nacional da CPT, o contexto do golpe se relaciona diretamente com o aumento dos conflitos no campo e nas cidades e, consequentemente, com a morte das lideranças ou de outras pessoas que estão envolvidas na luta.  

“É um momento de retrocessos. Há uma ofensiva muito forte contra as pessoas, grupos e movimentos que se posicionam contra esse momento político. Quem ousa falar contra e denunciar o que está acontecendo fica no alvo de diversos grupos que assaltaram o poder, não só político mas também econômico”, afirma.  

Isso foi justamente o que aconteceu com Márcio Matos, liderança do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que foi morto em casa, na Bahia, com três tiros, na frente de seu filho. Também com Jefferson do Nascimento, líder comunitário em Madureira, que foi encontrado com sinais de enforcamento um dia após desaparecer no Rio. Ou ainda com João Natalício Xukuru-Kariri, líder indígena em Alagoas, morto a facadas na porta de casa. 

Esses e os outros tantos casos de assassinatos políticos têm uma característica comum: são crimes hediondos que não permitem à vítima o direito de defesa.  Para Thiago Valetim, da CPT, a crueldade e o aumento das mortes se dá pelo aumento da resistência e da repressão. 

“Por um lado, há a resistência maior dos povos e, por outro, o Estado brasileiro que não garante os direitos dos povos da terra, das águas, das florestas, das cidades, ou seja, o que chamamos de minorias mas na verdade são maioria que tem os direitos negados e pouco que conseguiram estão sendo em tão pouco tempo derrubados”, argumenta. 

Para Alice De Marchi, pesquisadora da Justiça Global, nesse contexto de aumento da perseguição política aos movimentos populares, o assassinato de Marielle coloca em evidência outros crimes que estão acontecendo pelo país. 

“Não tem como não associar a morte da Marielle, por exemplo, com as pautas que ela carregava, assim como as outras lideranças. Então, há uma necessidade gritante de não deixar que se capture e apague a luta da Marielle, e todos os outros,  para a implementação de mais repressão. Precisamos dar visibilidade para o que está acontecendo”, conclui Alice. 

Edição: Vivian Virissimo