Aproximar a sociedade do debate sobre a água no Brasil é um dos lemas do Fórum Alternativo Mundial da Água, o Fama, que acontece em Brasília, no Distrito Federal, entre os dias 17 e 22 de março. O evento é organizado por movimentos populares, do campo e da cidade, e se coloca como uma oposição ao Fórum Mundial da Água, que também acontece na capital brasileira neste período e concentra entre seus participantes e financiadores, governos e corporações interessadas na gestão da água, como a Nestlé, a Coca-Cola e a Ambev.
O objetivo do Fórum é denunciar a sana privatista das corporações internacionais, segundo Neudicléia de Oliveira, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragem, o MAB, uma das organizações que compõe o Fama.
"Na nossa avaliação, a população tem que estar participando do processo, principalmente aqui no Brasil, onde tem um grande número de concentração de água. Por isso nós estamos organizando esse Fórum, para fazer um contraponto à programação e à metodologia que está sendo organizada pelo Fórum Mundial da Água, que na nossa avaliação, é o fórum das corporações, das grandes empresas que querem se apropriar da nossa água, privatizar e tirar o controle público e estatal da água aqui no Brasil".
O Brasil concentra 12% de toda a água doce do mundo e é o maior detentor deste recurso natural. Não à toa, grandes empresas que têm como fonte de renda a distribuição de água, recorrem ao Brasil para garantir sua produção.
Por outro lado, mais de 48 milhões de brasileiros ainda são afetados por secas e estiagens e outras 34 milhões de pessoas não têm acesso à rede de abastecimento de água potável, segundo dados do relatório de Conjuntura de Recursos Hídricos da Agência Nacional das Águas, a ANA.
Para Dorival Gonçalves Júnior, professor da Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia (FAET), da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), é dever do Fama explicar à classe trabalhadora as tentativas de mercantilização da água no Brasil. A água inclusive, segundo o professor, já tem valor de mercado no Brasil.
"A água é vendida como as commodities, ela está sendo cobrada como se fosse um custo de produção internacional. Como no Brasil esse custo de produção da água para distribuição é muito baixo, então eles estão retirando lucros extraordinários. Isso já começa a ser disputado, inclusive os modelos que estão sendo montados, são modelos que se assemelham muito com outras cadeias produtivas, por exemplo o caso da indústria de energia".
O Fama conta com a participação de 16 países e segundo os organizadores, a troca entre as experiências brasileiras e internacionais serão valiosas, como no caso da privatização do saneamento. Enquanto no Brasil são adotadas estratégias de repasse à iniciativa privada de empresas como a Cedae, a Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro, países como França e Alemanha, conseguiram reverter os processo de privatização do saneamento.
Segundo Neudicléia de Oliveira, também estão programados atos contra as grandes corporações na capital brasileira. "Vamos estar organizando também nesses dias, grandes lutas de enfrentamento ao grande capital aqui em Brasília e também a nível nacional e internacional. Os povos, a população vai se mobilizar para denunciar tudo o que está colocado em jogo na questão da privatização do saneamento, da privatização do setor elétrico e também todos os retrocessos desse governo golpista de Michel Temer, que é um dos principais organizadores do Fórum Mundial da Água".
O Fórum Alternativo Mundial da Água acontece no Parque das Cidade, próximo à Esplanada dos Ministérios. O Brasil de Fato estará na capital brasileira para acompanhar todas as atividades do Fama.
Edição: Juca Guimarães