Em Vitória (ES), grupo busca articular e fortalecer experiências agroecológicas a partir da favela
A história do povoamento de morros e favelas tem muito a ver com a migração das populações rurais, como camponeses, indígenas e quilombolas. No Espírito Santo, o coletivo Agricultores Urbanos busca resgatar essas raízes e promover a agricultura urbana a partir do Morro do Cabral, na capital Vitória.
“Como essas pessoas moram no morro, o acesso ao asfalto lá embaixo é muito tendencioso, é bem complicado pra eles. Para ir numa feira, descer o morro pra ir na feira, é complicado. Então eles já tinham essa proatividade de estar cultivando algumas hortaliças, verduras e frutas em seus quintais. Então a nossa ideia como agricultores urbanos é organizar esses cultivos e incentivar e ampliar esses cultivos e posteriormente possibilitar condições de obterem renda com esses cultivos”, explica Almir Junior, um dos criadores do coletivo sobre a relação da população local com a agricultura.
Maria Lucia Freitas é uma das moradoras locais que vêm recebendo apoio dos Agricultores Urbanos para plantar. “É muito bom consumir produtos sabendo de onde vem. Da janela da minha casa, eu posso colher pepinos”, comenta.
Esse trabalho concretiza uma nova etapa em abril, quando junto com outros grupos comunitários será realizada a primeira feira de produtos locais numa praça das proximidades do Morro do Cabral.
A ideia é poder gerar também alternativas de renda e recursos, já que muitas pessoas estão desempregadas. Dependiam de trabalhos vinculados à construção civil, que sofre com a desaceleração da economia nos últimos anos.
Além de apoiar os espaços dentro da comunidade, o coletivo também oferece serviços de apoio a outras iniciativas orgânicas e agroecológicas.
“Pessoas que tem interesse em implementar hortas em sua residência, no seu apartamento ou em seu condomínio estão fazendo contato conosco para passar esse know how que a gente tem para estar ajudando essas pessoas a terem seu espaço de cultivo urbano, seja em residências, apartamentos ou com hortas comunitárias em condomínios”, explica Almir Júnior.
A base das atividades dos Agricultores Urbanos é o quintal de Almir, que passou de depósito de entulhos para se tornar uma espécie de laboratório para testar práticas de agricultura orgânica. É a partir dali que se prepararam também outros serviços.
Um deles é a cesta viva, que traz uma mistura de hortaliças de fácil cultivo plantadas dentro de uma caixa de feira. Assim, os interessados podem não só obter produtos saudáveis como dar o primeiro passo para manter sua própria hortinha mesmo que não disponham de muito espaço.
Uma das parceiras do projeto é a chef Lígia Sancio, que utiliza os produtos para seu projeto de culinária natural. "Eu busco estar próxima das pessoas que produzem os alimentos para que eu possa ter acesso ao alimento fresco, orgânico, sazonal e local. O trabalho dos Agricultores Urbanos vem somar grandemente nessa proposta", comenta.
Outra ação importante é a produção de insumos naturais para apoiar a agricultura. Por meio de um sistema de compostagem, parte do resíduo orgânico de famílias é transformado em adubo e fertilizante naturais. E o projeto está buscando expandir-se mais por meio de parcerias junto a estabelecimentos comerciais, criando pontos de coleta para borras de café para ampliar a compostagem.
Essas atividades realizadas, também são uma forma de apoiar na geração de renda para a comunidade e para a sustentação do projeto.
“Nossos projetos não têm nenhum apoio de nenhum órgão público nem de órgão privado. Ele é autossuficiente, todo material que a gente gera, a gente tá tentando reaproveitar de alguma forma comercialmente para conseguir esses fundos e manter esses projetos”, conta Almir.
Em diálogo com grupos comunitários do bairro e grupos de outras localidades, o Agricultores Urbanos também vêm buscando desenvolver novas atividades.
Um desses projetos parceiros é o Tour no Morro, que busca quebrar os estigmas sobre o morro promovendo visitas à comunidade que incluem admirar a bela vista do local, que está nas franjas do Parque Municipal da Fonte Grande, uma das principais áreas de preservação de Vitória. Ali, um dos planos é reflorestar a área desmatada por meio da implantação de um sistema agroflorestal, que possa beneficiar o meio ambiente e a comunidade.
Com o crescimento, uma demanda do projeto é a conquista de um espaço maior e comunitário para plantio e compostagem. Para isso, reivindica um local inutilizado há anos que abrigou a antiga estação de tratamento de esgoto.
Edição: Anelize Moreira