Rodovias interditadas, aulas públicas, panfletagem, paralisação. Milhares de paranaenses aderiram à greve nacional do dia 19 de fevereiro contra a Reforma da Previdência. Em todas as regiões do estado, os manifestantes acordaram cedo e sinalizaram aos parlamentares que não pretendem aceitar mais um ataque aos direitos trabalhistas por parte do governo Michel Temer (MDB).
"A aposentadoria de um juiz de R$ 30 mil não incomoda eles. O que incomoda é a aposentadoria da ‘dona Maria’, de R$ 900 reais”, ironiza Roni Barbosa, trabalhador petroleiro e dirigente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT). “Isso não é uma reforma, é o fim da aposentadoria".
Confira um balanço dos protestos em dez cidades do Paraná:
Curitiba
As mobilizações na capital do estado começaram com uma panfletagem no Terminal Guadalupe, na região central, às oito da manhã. O professor Hermes Silva Leão, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato), explica que a manifestação desta segunda-feira também serve como um espaço de debate da conjuntura política.
“Precisamos impedir que o governo ilegítimo do Temer coloque a reforma em tramitação, e lutar para que ela seja derrotada por todos nós, trabalhadoras e trabalhadores”, afirma. “Ao mesmo tempo, o Brasil tem vivido um período muito difícil, e a recente intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro torna ainda mais necessário e urgente que o conjunto da população brasileira entenda a importância da defesa da democracia”.
A partir das nove, os protestos se concentraram em frente ao INSS da rua João Negrão, também no Centro. Às onze, os trabalhadores assistiram a uma aula pública na Boca Maldita, local histórico de manifestações políticas e culturais em Curitiba.
As manifestações foram organizadas por entidades integrantes da Frente Brasil Popular, como a APP-Sindicato e a CUT Paraná, além da Associação dos Professores da UFPR (APUFPR), do Sindicato dos Trabalhadores da Educação Básica Técnica e Tecnológica do Paraná (SINDIEDUTEC), do Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Curitiba (Sismmac) e do Sindicato dos Trabalhadores dos Serviços de Saúde e Previdência do Paraná (SindSaúde).
Araucária
Às seis horas da manhã, dois mil trabalhadores se mobilizaram em frente da Refinaria Getúlio Vargas (Repar) em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba. Petroleiros, petroquímicos e terceirizados paralisaram atividades por uma hora e meia contra a reforma da Previdência.
Outras categorias de trabalhadores, como os professores municipais, foram às ruas para expressar solidariedade àquela manifestação. Paulo Antunes, trabalhador petroquímico da Fafen Fertilizantes, localizada ao lado da Repar, aponta que a população devem seguir mobilizada: "Por todos aqueles que perderam a vida em local de trabalho, temos que dizer que nós somos solidários, somos contrários a essa reforma dos ricos", analisa.
Para Sérgio Monteiro, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Petroquímica do Paraná (Sindiquímica), o risco de votação às pressas da na Câmara permite debater o tema com os mais jovens. "Cerca de 70% da nossa base de trabalhadores são jovens, que não estavam percebendo essa questão. Agora, com a votação, fica aberto o debate, porque existe, de fato, o risco de fim da aposentadoria", alerta
Ponta Grossa
Cerca de 150 pessoas participaram das mobilizações em Ponta Grossa,na região dos Campos Gerais. A manifestação começou às quatro da tarde, na Praça Barão de Guaraúna, e seguiu para o Terminal Central. Antes de chegar ao local, os manifestantes foram até o prédio da Rádio Mundi, do deputado federal Sandro Alex (PSD), para exigir que o parlamentar vote contra a reforma da previdência.
No terminal de ônibus, houve panfletagem e uma aula pública com a participação da professora de Direito da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Jeaneth Nunes, e do advogado Aknaton Toczek Souza.
Os protestos foram convocados pela Frente Brasil Popular, pela Frente ‘Povo sem Medo’, pelo Fórum em Defesa da Previdência e pelo Sindicato dos Docentes da Universidade Estadual de Ponta Grossa (Sinduepg).
Célio Rodrigues, integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Frente Brasil Popular, ressalta que os manifestantes pretendem pressionar os deputados da região a votarem contra a reforma: "Nós, enquanto movimentos sociais, entendemos que a reforma não vai melhorar em nada a vida dos trabalhadores".
Castro
Em Castro, também nos Campos Gerais, cerca de 250 pessoas se encontraram na Praça dos Cavalos às oito da manhã. Durante a manhã, os manifestantes entregaram panfletos informativos e, à tarde, seguiram para Ponta Grossa, para se somar à mobilização.
Toledo
Trabalhadores de Marechal Cândido Rondon e Toledo se concentraram em frente à Associação Comercial e Industrial de Toledo, em repúdio à reforma da Previdência. Segundo o professor Roberto Casagrande, secretário de Organização do Núcleo Sindical da APP do município, cerca de 60% da categoria aderiu à paralisação.
Além de panfletos sobre o tema, o jornal Brasil de Fato Paraná também foi distribuído à população que participou dos protestos.
Maringá
No Norte do Paraná, o gabinete de Ricardo Barros, ministro da Saúde do governo Temer, foi ocupado por cerca de duas horas em Maringá. A ocupação aconteceu às nove da manhã, por iniciativa de sindicatos e movimentos sociais integrantes da Frente Brasil Popular.
De acordo com os organizadores, cerca de duas mil pessoas participaram do protesto. Uma faixa com a frase “Fora Richa! Fora todos eles!” foi pendurada sobre a fachada do prédio, em referência ao governador Beto Richa (PSDB).
Em Mandaguari, na região metropolitana de Maringá, uma comissão de moradores também organizou um ato em frente à agência do INSS local.
Foz do Iguaçu
Organizados pela Unidade Sindical e Popular, os atos em Foz do Iguaçu, no Oeste paranaense, iniciaram em frente ao Zoológico Bosque Guarani, a partir das 8h e continuaram dentro do Terminal do Transporte Urbano da cidade. Motoristas e cobradores paralisaram os ônibus e integraram-se às mobilizações.
Londrina
Em Londrina, também na região Norte, os protestos acontecem no período da noite. A mobilização começou às seis da tarde no Centro Cívico, na avenida Duque de Caxias. A atividade é organizada pelo Coletivo dos Sindicatos de Londrina, com apoio do Coletivo Mobiliza Londrina.
Litoral
No início da noite, atos também foram realizados no litoral paranaense. Paranaguá registrou protestos na Praça João Gualberto, em frente à agência do INSS, e em Matinhos, as manifestações aconteceram na Praça Central.
Estradas interditadas
Rodovias federais no Paraná foram bloqueadas neste dia 19 como parte das ações da Jornada de Lutas em Defesa da Aposentadoria. Em Rio Bonito do Iguaçu, no Centro-Sul do estado, cerca de 500 trabalhadores e trabalhadoras do MST interditaram a BR-158, que leva ao município de Saudades do Iguaçu. Em Guarapuava, mil integrantes do MST também bloquearam a BR-170.
No Norte do Paraná, em Arapongas, cerca de 700 pessoas participaram de uma marcha convocada por mulheres sem-terra e ocuparam a praça de pedágio na BR-369, entre Arapongas e Rolândia. Além de um posicionamento contra a reforma da Previdência, o protesto foi considerado uma atividade preparatória para as mobilizações de 8 de março, Dia Internacional da Mulher.
*Este conteúdo é resultado da cobertura colaborativa feita por: Ednubia Ghisi, Daniel Giovanaz, Franciele Petry Schramm, Gibran Mendes, Julia Rohden, Luciano Palagano, Pedro Carrano, Saori Honorato, Welligton Lenon.
Edição: Daniel Giovanaz