A segunda-feira (19) amanheceu com protestos e paralisações contra a reforma da Previdência proposta pelo governo golpista de Michel Temer (MDB).
Com o indicativo do governo de tentar a aprovação das mudanças na aposentadoria até o fim de fevereiro, centrais sindicais e movimentos populares foram às ruas contra mais uma reforma anti-popular que fragmenta os direitos da classe trabalhadora.
Além de protestos, a manhã foi marcada por trancamento de rodovias, fechamento de agências bancárias, paralisação de ônibus municipais e de fábricas. Diversas categorias paralisaram suas atividades, como metalúrgicos do ABC, professores da rede estadual de São Paulo, bancários, motoristas de ônibus, entre outras.
Cerca de 150 militantes, entre eles do MST, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, fizeram uma caminhada na região do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. O movimento também realizou um ato em frente à agência do INSS, no Centro Histórico da capital.
Para o dirigente do MST e membro da Frente Brasil Popular Gilmar Mauro, embora o governo tente amenizar a proposta de desmonte da aposentadoria para conquistar votos, o momento exige mobilização permanente.
"Nós do MST e todo o movimento camponês estaremos na luta contra a reforma da previdência e queremos fazer grandes batalhas no próximo período, porque a cortina de fumaça que se criou com a intervenção federal no Rio de Janeiro, na verdade, escamoteia uma coisa que corre solta: a tentativa de compra de votos dos parlamentares para a aprovação. E, se tiver condições, o governo aprovará na íntegra aquilo que já defende há muito tempo: a perda de direitos completa para a classe trabalhadora em benefício do grande capital", afirmou o militante.
Em Belém, capital do Pará, movimentos populares e centrais sindicais ocuparam a avenida Almirante Barroso, uma das principais da cidade paraense e se dirigiram ao mercado de São Brás, no centro histórico.
Presente no ato, o vice-presidente do Sindicato dos Correios, Tadeu Campos, que atua como servidor público há 17 anos, defende que a reforma de Temer, se aprovada, prejudicará principalmente as mulheres e os trabalhadores do campo, uma vez que não considera as realidades dessas parcelas da população.
"A expectativa de vida para o trabalhador do campo não chega a 65 anos e a reforma diz que você tem que ter, no mínimo, 65 anos para se aposentar. Nas regras de hoje, o trabalhador rural precisa apenas comprovar através do seu sindicato que ele é um trabalhador rural e desenvolve as atividades dele no campo. Nas novas regras, além de ele ter que comprovar, ele vai ter que contribuir um determinado período para ter direito à aposentadoria", disse Campos. "A mulher hoje tem jornada tripla. além de tomar conta da casa, também trabalha fora e ajuda no sustento da família. Aplicar as mesmas regras também para as mulheres é muito prejudicial porque sabemos que elas precisam de tempo diferenciado para sua aposentadoria", acrescentou.
Em Curitiba, capital paranaense, trabalhadores seguiram em caminhada até a região conhecida como Boca Maldita, onde acontece uma aula pública sobre as mudanças na aposentadoria.
Já no estado de São Paulo, parte da frota de ônibus entrou em greve e as Rodovias Presidente Dutra e Régis Bittencourt amanheceram trancadas pela Frente Povo Sem Medo.
Para Ivone Silva, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, categoria que decretou greve nesta segunda, a reforma proposta por Temer e sua base aliada no Congresso recebe o apoio do capital financeiro porque incentiva o sistema de previdência privada, de grande interesse de bancos como Itaú e Bradesco, ao transformar a aposentadoria em um produto.
"Não é só a questão da aposentadoria. A nossa categoria hoje é doente. Tem muitos bancários lesionados, com problemas psiquiátricos. Se passarem a reforma da previdência, você perde um monte dos benefícios que temos hoje, porque os bancos insistem para os trabalhadores comprar a previdência privada. Ela é uma compra individual, mas não cobre a licença maternidade, um acidente de trabalho. Ou seja, nós dizemos: você vai muito perder, mas não é só a aposentadoria, é todo um sistema de seguridade social do país", afirmou a dirigente em conversa com a Rádio Brasil de Fato.
Na cidade de Japaratuba, em Sergipe, a Frente Brasil Popular ocupou a prefeitura. O local é a principal base eleitoral do deputado André Moura (PSC), que lidera a campanha pela aprovação da reforma na Câmara Federal.
Estados como Piauí, Rio de Janeiro e Ceará também contaram com protestos nesta manhã.
Nas redes sociais, a mobilização acontece através da hashtag #QueroMeAposentar, que está entre os assuntos mais comentados do Twitter.
As manifestações continuam e tendem a crescer ao longo do dia. Também está marcada para hoje uma grande mobilização às 16h na capital paulista, na região do MASP. No Rio de Janeiro, o ato público acontece na região da candelária. Outras capitais também contarão com manifestações públicas. A agenda completa você pode conferir aqui ou pela Rádio Brasil de Fato.
Edição: Anelize Moreira