As críticas sociais denunciais pela escola de samba Paraíso da Tuiuti atrairam o público na Sapucaí e mostraram que o samba ainda é reduto de resistências e lutas. O samba-enredo intitulado “Meu Deus, Meu Deus, está extinto a escravidão?” retratou as atuais formas de trabalho escravo, acentuados por medidas como a perda de direitos impostos pela reforma trabalhista, que atingem, principalmente o povo negro.
Uma das alegorias trouxe a figura de um “vampiro neoliberal” vestido com a faixa presidencial, em referência ao presidente golpista Michel Temer, do MDB, que “suga” os direitos dos trabalhadores e vende o patrimônio brasileiro para estrangeiros.
Outra ala que chamou atenção do público trouxe “manifestoches” vestidos com o pato da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), a camiseta da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e panelas nas mãos. A fantasia lembrou os manifestantes pró-impeachment da presidenta Dilma Rousseff que foram apoiados pela Federação que tem Paulo Skaf à frente.
Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, o diretor de carnaval da Tuituti, Thiago Monteiro, conta como foi o processo de escolha e criação do enredo deste ano. “A repercussão na proporção que ela tomou chegou a surpreender um pouco, mas quando a escola se propôs a fazer o enredo, ela sabia que atingiria determinadas pessoas da sociedade, que [o tema] seria, no mínimo, debatido. Então, isso nos traz muita alegria, porque eu acho que o objetivo foi atingido, de, pelo menos, fazer o povo, a sociedade debater o assunto”, diz Monteiro.
Além da avenida, as alegorias, alas e fantasias da escola vice-campeã do carnaval carioca repercutiram nas redes sociais. O samba-enredo questionou o quanto a Lei Áurea, que completa 130 anos em 2018, trouxe cidadania e igualdade de direitos para a população negra.
“O samba teve uma proposta diferente esse ano. A Tuiuti quis encomendar para os maiores campeões do concurso de enredos e a direção pôde construir junto com os seus compositores. Daí vem o fator desse sucesso todo, creio eu. A gente sabia onde queria chegar. A gente queria um samba que emocionasse, que explodisse”, relata Thiago sobre a criação da música.
Em relação ao papel das escolas de samba, Thiago defende que historicamente o carnaval reflete o que a sociedade vive. “Nos anos 1980, por exemplo, algumas escolas se notabilizaram por fazer enredos críticos e que, pelo menos, levantavam algumas questões. E isso tem retomado”, diz.
Ouça a entrevista na íntegra no aúdio acima.
Edição: Camila Salmazio