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Pais e especialistas criticam adiamento do início das aulas por duas semanas em SBC

Especialistas apontam falta de funcionários; Prefeitura de S. Bernardo do Campo diz que escolas serão ponto de vacinação

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Adiamento das aulas prejudica a vida das famílias que precisam se reorganizar para ter quem cuide das crianças
Adiamento das aulas prejudica a vida das famílias que precisam se reorganizar para ter quem cuide das crianças - Pixabay

Os alunos da rede pública de ensino de São Bernardo do Campo, na região metropolitana do estado de São Paulo, ainda não voltaram para as salas de aula. Enquanto a Prefeitura, comandada por Orlando Morando (PSDB), garante que as escolas municipais estarão fechadas até o dia 19 de fevereiro por conta de uma campanha de vacinação contra a febre amarela, pais e especialistas apontam que o motivo real é a falta de merendeiras, profissionais que cuidam da alimentação dos alunos nas escolas.

Patrícia D'Amico, moradora do bairro Jordanópolis, em São Bernardo do Campo, tem três filhos, de nove, seis e três anos de idade, todos matriculados na rede pública de ensino na cidade do ABC paulista. Faz parte de sua rotina deixar os filhos na escola para poder começar sua jornada de trabalho. 

O ano letivo deveria ter começado nesta segunda-feira (5), mas com o adiamento das aulas, o planejamento feito pela família ruiu. Segundo D'Amico, as UBS's de São Bernardo estão vazias e não haveria motivo para que as aulas fossem adiadas.

"Atrapalha todo mundo: pai e mãe que têm serviço. A gente conta com a escola para poder trabalhar e, se você tem três filhos, como eu, e não tem escola, você acaba pagando a mais alguém para olhar as crianças e você poder trabalhar. Não dá para você chegar no trabalho e dizer que não vai até o dia 19 porque o filho não iniciou as aulas. Não existe esse tipo de desculpa", diz.

Patricia lembra ainda que os materiais escolares e uniformes que seriam distribuídos para as crianças ainda não chegaram. "Eu não acredito que seja a campanha de vacinação, não sei se a questão da merenda, ou questão de material escolar e uniforme que ainda não chegaram. Na verdade, no ano passado demorou para chegar, um dos meus filhos nem recebeu. A promessa de campanha era que ia estar tudo entregue no primeiro dia de aula. Não tem nada entregue, a gente sabe que está faltando funcionários nas escolas. Acho que, na verdade, ele conseguiu juntar o útil ao agradável, é uma desculpa perfeita para adiar o início das aulas".

Atraso

De fato, o prefeito Orlando Morando ainda não fechou o contrato da empresa que servirá as refeições da rede. A ganhadora da licitação, a empresa Soluções Serviços Terceirizados, teve sua vitória contestada por outras duas empresas que participaram do processo e o resultado ainda não foi divulgado, como explica Genivaldo Barbosa, presidente do Sindicato dos empregados nas empresas de refeições coletivas e merenda escolar, que atende a região do ABC paulista. 

"Na sexta-feira, eles deram como vencedora da licitação uma empresa chamada Soluções e, segundo eles, tinha uns recursos que eles estavam aguardando. Como é que vai pôr os alunos sem ter uma empresa vencedora na licitação? Isso aí está claro", diz referindo-se ao adiamento das aulas.

De acordo com a Prefeitura de São Bernardo, as 102 escolas serão cedidas para funcionar como postos de vacinação até 19 de fevereiro. Ainda segundo o órgão, a data pode ser alterada, dependendo da demanda e adesão à campanha por parte da população.

Planejamento

Para Arthur Chioro, ex-ministro da Saúde na gestão da presidenta Dilma Rousseff e ex-secretário de Saúde de São Bernardo, “é de causar perplexidade” a desculpa dada pelo prefeito tucano: "Isso é inaceitável, chega a ser um escárnio. É o atestado da incompetência política do prefeito, da sua equipe. Até agora, não há casos registrados de febre amarela urbana. Todos eles estão relacionados a pessoas que entram, que moram dentro da mata, nas franjas, agricultores. Todos os casos são assim".

Chioro esclarece que a cidade de São Bernardo do Campo tem 34 Unidades Básicas de Saúde (UBS's), que atendem entre 300 e 500 pessoas por dia. O ex-secretário lembra que as unidades são reconhecidas por ser a “melhor rede básica do país”.

"As unidades de São Bernardo são grandes, todas tem mais de 800, 1.200, 1.300 metros quadrados, com salas da comunidade, utilizadas para discussão em grupo, para atividade física, para trabalhos em geral. Não existe motivo técnico que justifique o fechamento de escola para fazer vacinação. Isso é desculpa esfarrapada da administração municipal. Duvido que o secretário municipal de Saúde tenha coragem de sustentar tecnicamente a necessidade", afirma.

Em nota, a prefeitura de São Bernardo do Campo, afirmou que a meta da campanha de vacinação “é atingir toda a população”. A gestão municipal dispõe de 707 doses contra a doença e fará uma reunião na quarta-feira com os secretários da Educação e Saúde para avaliar o resultado da campanha, na Promotoria de Justiça.

Com relação à contratação das merendeiras, a Prefeitura afirmou que o processo está em fase de conclusão e, independentemente disso, a alimentação dos alunos da rede municipal está garantida.

Edição: Vanessa Martina Silva