Nas vésperas do início do ano parlamentar, que terá a primeira sessão na próxima segunda-feira (5), a reforma da Previdência continua sendo o principal motor da queda de braço entre governo e oposição.
Diante da dificuldade do governo golpista de Michel Temer (MDB) de conquistar novos apoios à medida na Câmara dos Deputados, partidos de oposição apostam na possibilidade de ampliar a interlocução com parlamentares da base aliada que se opõem à reforma. A líder da bancada do PCdoB na Casa, Alice Portugal (BA), destaca que o período de recesso estaria contribuindo para o movimento de oposição por conta do contato dos deputados com as bases populares nos estados.
"Com certeza, [eles] beberam na fonte da rejeição à reforma, então, o nosso espectro de apoio [à oposição] aumenta", afirma.
Matemática
Para aprovar a medida, são necessários 308 votos no plenário. A contagem do governo inclui 270 deputados que teriam dado como certo o voto favorável à reforma. Com a intenção do Planalto de colocar o texto em votação no próximo dia 19, mas sem garantias em relação ao placar, o governo oscila entre o discurso de que haveria um forte apoio à reforma e a realidade dos números.
Segundo informações de bastidores, alguns parlamentares da tropa do choque de Temer estariam defendendo o adiamento para novembro, quando não haverá mais uma preocupação com as urnas.
Para tentar, mais uma vez, evitar o fracasso do movimento pró-reforma, o Planalto investe numa ginástica que chegou a um novo patamar nos últimos dias. No domingo (28), Temer fez uma participação no programa do apresentador Silvio Santos e, na segunda-feira (29) à noite, concedeu uma entrevista ao Ratinho, ambos no canal do SBT, para discursar em favor da medida.
A estratégia seria lutar contra a ampla rejeição popular para que isso impactasse o posicionamento dos parlamentares indecisos.
Diante dos holofotes, o governo sustenta que o número de votos estaria crescendo, mas a oposição questiona a afirmativa. O líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS), aponta que o jogo estaria caminhando exatamente no sentido inverso, com redução dos votos da base.
"Não tem dinheiro, não tem cargo que seja suficiente para que um parlamentar torne irreversível o rompimento com a sua base social", acredita o petista.
Mobilizações
Após uma reunião realizada nesta terça-feira (30) pela manhã, membros da oposição e de movimentos sociais anunciaram que irão intensificar a campanha contra a reforma. Segundo a militante Ana Moraes, do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), está sendo montado um calendário de atividades que terá início no próximo dia 6.
"Eles não terão o descanso dos movimentos porque a nossa pauta exclusiva pra este mês de fevereiro será contra a reforma da Previdência. E, no mês de março, as mulheres tomarão as ruas também contra a reforma e todos os retrocessos", antecipa.
Os detalhes da programação de luta serão divulgados na próxima semana.
Edição: Nina Fideles