A cobertura jornalística tradicional que se delineia nas vésperas do julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem confirmado a tendência conservadora de empresas de comunicação no sentido de criminalizar a figura do petista. Essa é a leitura do coletivo Intervozes, que atua pela democratização dos meios de comunicação no país.
A secretária-executiva do coletivo, Bia Barbosa, aponta que o problema se estende também ao tratamento dado pela mídia ao Partido dos Trabalhadores (PT) em geral.
"É um comportamento orquestrado de tentativa de criminalização, no caso das denúncias contra o ex-presidente Lula, e, no caso dos ex-governos do PT, de tentativa de descrédito e de ataques permanentes, sistemáticos contra essas administrações perante a opinião pública", afirma.
Ela destaca ainda que o cenário atual da cobertura se compara ao que foi observado no país em outros momentos decisivos da política nacional. Um exemplo é o que ocorreu em 4 março de 2016, quando o ex-presidente foi conduzido coercitivamente pela Polícia Federal durante a Operação Aletheia para prestar depoimento.
Um levantamento feito na época pelo Intervozes mostrou que, no Jornal Nacional, da Rede Globo, que é o noticiário televisivo de maior audiência no país, em 1h20min dedicados ao tema, a defesa de Lula teve apenas 13 minutos para se manifestar. Tal prática é rotineira, segundo Bia Barbosa. "É quase natural a gente ver esse comportamento agora nas vésperas desse julgamento porque isso, na verdade, só ratifica uma linha editorial que foi adotada há muito tempo", pontua.
O pesquisador Manoel Marcondes Neto, que preside o Observatório da Comunicação Institucional, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), acompanha com atenção o jogo político nacional.
Ele salienta que a preferência da mídia em focar as críticas sobre as figuras de Lula e do PT está relacionada à capacidade eleitoral do petista no atual momento do país.
"Está todo mundo numa grande interrogação e, como Lula é o primeiro nas pesquisas porque ele tem um grande recall -- e um recall positivo, o maior e melhor do país nos últimos anos --, então, ele está em primeiro lugar nas pesquisas e a imprensa está batendo nele porque se estabeleceu uma guerra", analisa.
Marcondes analisa ainda que o comportamento prático dos veículos tradicionais não estaria em sintonia com a forma como essas empresas se vendem para telespectadores, leitores, ouvintes e internautas. "Tem gente que não tem espaço nenhum, que não vai ter voz nunca", completa.
O julgamento de Lula acontece nesta quarta-feira (24), em Porto Alegre (RS). Todas as informações sobre o caso e a cobertura completa do julgamento você acompanha no especial Eleição Sem Lula é Fraude.
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Edição: Simone Freire