A sensação de insegurança causada pelo aumento do desemprego, o retorno da fome e da miséria e os cortes nos direitos sociais são algumas das situações que assustaram os brasileiros nesse ano. A reportagem do Brasil de Fato foi às ruas para ouvir o povo em uma retrospectiva dos principais acontecimentos de 2017.
As reformas propostas pelo governo golpista de Michel Temer (PMDB) foram lembradas com preocupação. Uma delas é a trabalhista, que entrou em vigor no mês de novembro e retirou uma série de direitos consagrados pela CLT. Outra ação do governo golpista foi a aprovação da PEC do Teto dos Gastos, que congela os investimentos em áreas como saúde e educação pelos próximos 20 anos.
Para o taxista Djalma Alves Freire, de 69 anos, as políticas de Temer prejudicaram principalmente os mais pobres.
"Porque tudo que o governo atual está propondo é para prejudicar o coitado, os mais pequenos. A gente vê muita gente na rua. O trabalho informal está crescendo cada vez mais, o ambulante vendendo suas coisinhas, porque não tem outra opção.Ou faz isso, ou morre de fome", opina.
O mesmo sentimento de indignação é compartilhado por Antonio Tadashi, 55 anos. Ele é economista e acredita que as decisões de Temer foram feitas apenas para agradar a classe política qual ele faz parte.
"O cara tentou vender várias reformas e, basicamente, as reformas que ele tentou fazer é para penalizar a classe trabalhadora brasileira. O governo do Temer está a serviço de um grupo de pessoas. E esse projeto deles é justamente para reformular a sociedade brasileira, a economia e manter os mesmo políticos que vem governando desde a época da ditadura", diz.
Toda essa crise, segundo João Pedro Stedile, coordenador nacional Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) teve início com o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff.
"O Brasil vive uma grave crise econômica, que se transformou em uma crise social e em uma crise política, em função do golpe que a burguesia deu no Executivo e derrubou a presidenta Dilma, eleita democraticamente. O golpe foi precisamente isso, para eles poderem aplicar uma política econômica que joga todo o peso da crise sobre a classe trabalhadora. E é por isso que, já em 2017, começaram a aparecer os efeitos, no aumento do desemprego, na inflação, no aumento da desigualdade social", comenta Stedile.
A quantidade de pessoas sem ocupação é justamente a preocupação da jovem recém-formada, Gabriela Martins, de 22 anos. A taxa de desemprego atinge hoje mais de 12 milhões de pessoas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento aponta que o índice é um dos maiores da história, apesar de quedas neste fim de ano.
"Para mim, enquanto recém formada, é mais no sentido de apreensão mesmo, de como vai ser meu futuro no mercado de trabalho. Eu não votei nesse governo, não era um governo que gostaria que estivesse hoje em dia em vigor", reclama.
Com o controle do governo golpista sobre os parlamentares do Congresso, Stedile acredita que o próximo ano ainda será de dificuldades para a classe trabalhadora:
"O ano de 2018 será ainda mais perverso para as condições de vida do povo brasileiro e para a concentração da riqueza e da renda. Infelizmente o governo golpista tem o controle absoluto do Congresso Nacional e, por essa razão, ao longo do ano eles conseguiram aprovar diversas mudanças na lei brasileira, que buscavam apenas jogar o peso da crise sobre a classe trabalhadora."
Diante da conjuntura, Stedile enfatiza a importância das mobilizações das massas nas ruas para impedir mais retrocessos na política e o agravamento da crise que se instalou no país.
"Companheiros e companheiras, nós teremos um 2018 cheio de mobilizações, de muita disputa política em que a própria campanha eleitoral se transformará em uma verdadeira luta de classes e é por isso que nós, dos movimentos populares, estamos convocando cada militante, cada companheiro e cada companheira e todos os movimentos para nos engajarmos nesse processo e transformarmos 2018 na derrota desses golpistas e na retomada do desenvolvimento do Brasil", defende.
As centrais sindicais e os movimentos populares já agendaram uma série de atos contra a reforma da Previdência, que poderá ser colocada em pauta em fevereiro, no retorno do recesso parlamentar.
Edição: Camila Salmazio