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Agroecologia na universidade: encontro do saber científico com o popular

No Espírito Santo, o Coletivo Casa Verde promove o aprendizado teórico e prático de forma independente e autogestionado

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Toda sexta-feira Coletivo Casa Verde realiza um mutirão aberto à toda comunidade para manejo da área.
Toda sexta-feira Coletivo Casa Verde realiza um mutirão aberto à toda comunidade para manejo da área. - Vitor Taveira
No Espírito Santo, o Coletivo Casa Verde promove o aprendizado teórico e prático de forma independente e autogestionado

Um projeto criado por estudantes tem se tornado referência em agroecologia urbana na região metropolitana da Grande Vitória. Em 2009 eles criaram o Coletivo Casa Verde dentro da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

"O coletivo sempre teve o objetivo de trabalhar a educação ambiental e a agroecologia. Trabalhar esse espaço, o manguezal, a Ufes, trabalhar a horta urbana. Os integrantes são pessoas interessadas em estudar agroecologia. Vêm pessoas da universidade - de vários cursos diferentes - e pessoas que não são da universidade, que é a comunidade externa", explica a geógrafa Jéssika Delpupo, que ingressou no coletivo no início de seu curso de graduação.

Depois de atuar por anos em outros espaços baldios dentro da universidade, o Casa Verde passou a ocupar, em 2015, um antigo viveiro abandonado há quase uma década na Ufes, com área de cerca de meio hectare, às margens do manguezal. Lá, os integrantes se revezam nos cuidados ao longo da semana e toda sexta-feira realizam um mutirão aberto à toda comunidade para manejo da área.

O viveiro que chegou a produzir milhares de mudas antes de ser abandonado voltou à ativa por meio da autogestão do grupo de jovens, produzindo mudas de árvores nativas que são enviadas a comunidades indígenas e quilombolas que estão reflorestando áreas antes ocupadas pelo monocultivo de eucalipto. "A gente busca que o viveiro seja um colhedor, multiplicador e distribuidor de mudas e sementes. Já fizemos atividades de plantar mudas pelo campus e de direcionar mudas para outras áreas", conta Jéssika.

Aproveitando as árvores frutíferas que já se encontravam no lugar, o grupo vem estabelecendo de forma experimental sistemas agroflorestais (SAF's). Além disso, há horta de plantas medicinais, plantas alimentícias não-convencionais (PANC's) e outros cultivos como milho, feijão, abóbora, além do uso de técnicas de compostagem, bioconstrução e permacultura.

O biólogo Douglas Wandekoken, também integrante do coletivo, sintetiza a forma de manejo utilizada. "Aqui não se produz comida por forma de monocultura ou com uso de agrotóxico como parte do nosso alimento é produzido atualmente. A agroecologia tenta associar essa produção de alimentos com a biodiversidade nativa que a gente tem. Tentamos também aproveitar tudo que produzimos dentro do nossos sistema agroflorestal, usando o sistema de podas e compostagem, por exemplo. E mostramos que é possível produzir alimentos de forma sustentável dentro da cidade".

Ele explica que o aprendizado do grupo provém das visitas a camponeses que realizam agroecologia no interior do estado e também das buscas por meio da internet e outras fontes. O Coletivo Casa Verde conta hoje com nove integrantes permanentes, além de diversos colaboradores eventuais. Desde o seu início, também trabalha em parceria com movimentos populares como o Movimento dos Sem Terra (MST) e o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e outros grupos de agroecologia do Espírito Santo.

Para fortalecer o aprendizado, que integra teoria e prática, o Coletivo deu início este ano a um grupo de estudos quinzenal com o tema Agroecologia e Permacultura, que também acontece dentro da Ufes em Vitória. “Cada um já estudava isoladamente mas sentimos a necessidade de estudar juntos e trazer mais pessoas que querem aprender e dialogar sobre o assunto para trocar mais ideias e aumentar essa rede”, explica a comunicadora Alice Moura da Silva. “O coletivo tem integrantes e colaboradores de área como Ciências Sociais, Biologia, Comunicação, Engenharia, Geografia, Segurança do Trabalho, Oceanografia. E todas essas áreas você consegue aplicar na agroecologia. A questão da interdisciplinaridade é incrível, há muita troca mesmo”, comenta.

Palestras, debates, visitas de escolas, recepção de calouros, trotes solidários, exibição de filmes, doação de mudas e outras atividades fazem parte do viés de educação ambiental do Casa Verde.

Mesmo atuando de maneira informal e sem um reconhecimento oficial da universidade, o grupo consegue unir de forma interdisciplinar o tripé ensino, pesquisa e extensão que norteia o ensino superior público no Brasil, provando que a agroecologia é mais que uma ciência: é um saber, uma prática e uma possibilidade de mundo mais justo e sustentável.

Um conjunto de conhecimentos ancestrais e modernos a serviço de outro futuro possível. “A agroecologia é muito promissora principalmente nesse cenário de mudanças climáticas e degradação ambiental em que estamos vivendo. É otima ferramenta para tentar melhorar o meio em que a gente vive, produzindo alimento saudável e ao mesmo tempo contribuindo com o meio ambiente”, conclui Wandekoken.

Edição: Daniela Stefano