Foi lançada na semana passada a campanha “Caveirão Não: favelas pela vida e contra as operações” que denuncia o aumento das violações de direitos humanos e a repressão das operações da polícia nas favelas cariocas.
O nome da campanha remete aos carros blindados usados pelas polícias nas operações que viraram símbolos da repressão policial nas comunidades. Durante o lançamento moradores e movimentos das favelas denunciaram que não só o caveirão continua sendo usado nas operações da Polícia Militar (PM) como agora vem em versões ainda piores, como os helicópteros blindados. A campanha foi inspirada em um movimento feito em 2006 contra o blindado.
"Áreas inteiras tem casas invadidas e os mandatos eles não especificam uma casa, um lugar, então essas residências são violadas. Nós recebemos denúncias até de uso de chave mestra pelo BOPE em algumas favelas do rio. As famílias são acordadas às 5h horas da manhã com o policial já dentro de casa e isso é um abuso muito grande. E houve um aumento dessa violência, por isso precisou se reunir essas organizações de direitos humanos e esses movimentos sociais para denunciar esses casos”, explica Glaucia Marinho, representante da Justiça Global, organização que participa da campanha. "As operações fecham escola, comércio, impedem as pessoas de ir e vir das suas casas, chegarem nos seus trabalhos. Você tem um impacto na subjetividade do morador de favela”, disse Marinho.
Além destas organizações e movimentos sociais, familiares de vítimas da violência policial policial participaram do lançamento. Um exemplo foi o irmão da menina Maria Eduarda, morta neste ano dentro da escola que estudava durante uma operação policial.
A representante da organização Justiça Global também denunciou que nesse ano aumentou o número de crianças feridas e mortas em operações policiais. “Quando são registrados por auto de resistência, muitas vezes eles nem investigados são, o policial goza de fé pública. Existe um levantamento também feito pela campanha que apenas 2% de casos envolvendo policiais o Ministério Público investiga e apresenta denuncia à justiça. Então isso precisa ser revisto e é por isso que a gente está aqui se mobilizando”, explica Marinho.
Isto demonstra uma das questões mais apontadas pelos movimentos: as crianças são as mais afetadas pela violência policial. Um levantamento feito pela ONG Redes da Maré mostrou que em 2016 as escolas públicas do complexo ficaram fechadas por 28 dias por conta das operações policiais. Isso quer dizer, que tem 12 anos de escolarização, uma criança moradora da Maré perde o equivalente a 1 ano inteiro de aulas. “Na verdade são violações recorrentes né? Nós não temos que pensar nos efeitos da operação em um dia, mas tudo que ela produz no cotidiano dessas famílias ao longo do tempo”, conclui.
Edição: Vivian Virissimo