Você já parou para pensar em qual lado da história brasileira aprendeu na escola? E na cor do brasileiro que ocupa as telas do cinema e da televisão? Ambas as perguntas levam para uma única resposta: o branco.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que 54% da população brasileira é composta por negros ou pardos (grupos agregados na definição de negros), sendo que a cada dez pessoas três são mulheres. Onde estão essas pessoas na mídia brasileira? O cineasta e pesquisador Joel Zito Araújo afirma que o setor do audiovisual é o segmento da sociedade brasileira onde o racismo e a desigualdade racial são mais profundos. Ele destaca que a baixa representatividade da população negra está presente também por trás das telas.
“Há dois anos atrás eu fiz um levantamento do número de cineastas que tinham conseguido colocar um filme nas salas de cinema e constatei que o número de cineastas que estão em atividade hoje e têm essa conquista está em torno de 400 pessoas. Já o número de cineastas negros que tinham alcançado tal façanha ficou em 9, nenhuma mulher”, conta Araújo à Radioagência Brasil de Fato.
O audiovisual não é o único setor da mídia brasileira em que a desigualdade racial se manifesta. Na imprensa, a situação não é diferente. Os episódios ocorridos com o âncora do Jornal da Globo, William Waack, que proferiu comentários racistas quando se preparava para entrar no ar numa gravação em 2016 e com o presidente da Empresa Brasil de Comunicação, a EBC, Laerte Rimoli, que compartilhou em suas redes sociais imagens ironizando a declaração da atriz Taís Araújo sobre o racismo sofrido pelo seu filho, são alguns exemplos do que ocorre nos bastidores do Jornalismo brasileiro.
Isabela Vieira é jornalista da EBC e integrante da Comissão pela Igualdade Racial do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, a Cojira-RJ. Ela aponta que o racismo se manifesta de várias formas no Jornalismo, desde a negligência com as pautas de interesse da população negra, até a estrutura das redações, que, em sua maioria, são dirigidas por homens e brancos.
“Precisa investir em meios de comunicação alternativos livres e comunitários, que acabam empregando de uma maneira ou outra profissionais negros, não só jornalistas, mas comunicadores, dando voz direta a essas pessoas para que elas possam pautar o debate que é de interesse da população, sobretudo a negra, na esfera pública. Eu observo também, que de uma maneira geral, o racismo ainda se reflete na estrutura das empresas”, afirma.
O caminho para mudar este cenário passa principalmente pelas políticas públicas, ações afirmativas que promovam a paridade de gênero e raça nos espaços de trabalho e nos editais de cultura. A diversidade do povo brasileiro é uma das maiores riquezas do país e deve ser valorizada tanto dentro, quanto fora dos meios de comunicação.
Edição: Vivian Virissimo