Abençoados pela chuva que fertiliza e renova os caminhos, cerca de 400 participantes cruzaram o estado rumo ao Quilombo do Campinho, em Paraty (RJ), na última semana de outubro. Na mochila alimentos, fotos, sementes, bandeiras e a enorme expectativa de reunir as sete regionais do estado que há mais de três anos não se encontravam.
Entre a serra e o mar da Costa Verde, não podiam ter sido recebidos de forma mais acolhedora: ao som dos tambores do quilombo e pela saudação em guarani dos indígenas da região, o corpo arrepiou. Em seguida “as mais velhas do lugar, os mais velhos do lugar” foram chamados a ocupar seus lugares na mesa de abertura.
Foi nesse clima de diálogo de gerações e de respeito à diversidade dos povos que se deu o IV Encontro Estadual de Agroecologia do Rio de Janeiro. Sob o lema “Cultivando Territórios do Bem Viver”, buscou-se aproximar a cultura local, valorizar os saberes ancestrais e visibilizar as experiências de resistência nos territórios, seus anúncios e denúncias.
Feira dedicada aos sabores, saberes e sementes do Estado
O segundo dia de encontro era bastante esperado. O povo levantou acampamento cedo e rumou para o centro da cidade, numa proposta de diálogo com a sociedade. Como um espaço de resistência popular, a feira teve troca de mudas e sementes crioulas, comercialização de artesanatos naturais, alimentos saudáveis e apresentações culturais.
A agricultora Neuza Marcelino não tirava o sorriso do rosto, tinha conseguido levar à feira pela primeira vez a geleia de amora com frutos do seu próprio sítio. Ela produz sem veneno em Guapimirim, região metropolitana do Rio, que teve ainda representantes de Magé e da Capital.
O Médio Paraíba do Sul também esteve presente com alimentos produzidos na terra conquistada na luta. Paçoca feita no pilão, doce de leite, farinha de tapioca e muito mais direto do assentamento Roseli Nunes, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST-RJ), em Piraí. Dona Conceição, agricultora e doceira de mão cheia, ainda dava dicas de cozinha a quem passava por lá.Outras articulações regionais como Serramar, Serrana, Costa Verde e Norte também trouxeram seus produtos agroecológicos, que além de comercializados na feira alimentaram os participantes em todos os dias de encontro.
Carta dos Saberes Ancestrais e Caminhos para o IV ENA
O momento de culminância do evento aconteceu no terceiro dia, com a leitura da carta política, que registrou as principais ameaças, desafios e compromissos da agroecologia no estado. E para festejar, o povo cantou.
“O povo que planta e pesca, canta dança e faz festa em seu pedaço de chão. Abastece a sua mesa, agradece a natureza em qualquer religião. Seu lugar seu oratório, tirar o seu território é calar a tradição” entoou Luiz Perequê, caiçara e músico de Paraty.
Sua despedida foi um “até breve”. Agora será de Minas Gerais o calor da acolhida: o Encontro Nacional de Agroecologia já está marcado, em Belo Horizonte, no primeiro semestre de 2018. Que venha o IV ENA!
Edição: Vivian Virissimo