Há algumas semanas, Iasmim Ribeiro, 13 anos, estava ansiosa para chegar o último final de semana de outubro e ter início o 20º Encontro Estadual das Crianças Sem Terrinha, no Rio de Janeiro. Não só porque seria a primeira vez que viajaria de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, até a capital do estado, mas também porque se diverte ao participar dos encontros organizados pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
“Eu estava ansiosa porque tem muita coisa legal que a gente faz aqui. Tem brincadeiras, gincanas, comida boa, música. Acho que é importante para a gente se reunir, uma criança conhecer a outra de lugares diferentes”, explica.
Junto com Iasmim, participaram do evento outras 200 crianças, entre 6 e 13 anos, que vivem nas áreas de acampamentos e assentamentos do MST nas regiões da Baixada, Norte, Lagos e Sul Fluminense, e também aquelas que vivem no campo em comunidades no entorno das áreas de reforma agrária.
Evelin Barbosa, 12 anos, é uma delas. Ela mora em Campo Alegre, bairro da zona rural de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e começou a participar das atividades do MST a partir do convite de amigos.
“Já participei de quatro encontros. É muito importante. Nos ensina muitas coisas, como lidar com preconceito, por exemplo. Ajuda a gente a superar isso e seguir em frente. Também falamos sobre respeito, educação e sobre os nossos direitos. A gente debate ainda o acontece no país", afirma.
Para coordenar as atividades, aproximadamente 50 educadores, profissionais da educação, oficineiros e militantes do MST estiveram reunidos no Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), entre os últimos dias 28 e 30.
De acordo com Márcia Ramos, do Setor de Educação do MST, o encontro das crianças é um espaço para o desenvolvimento de oficinas lúdico-educativas, conversas sobre temas de relevância do cotidiano das crianças das áreas de reforma agrária e também de fortalecimento da identidade Sem Terrinha.
“A gente teve encontros em vários estados ao longo do mês de outubro, como uma preparação para o encontro nacional, que vai acontecer no ano que vem. O objetivo principal não é o encontro em si, mas as preparações e a organização das crianças nas suas comunidades. É importante colocar quem são as crianças Sem Terra, filhas e filhos de trabalhadores camponeses que estão em processo de formação e de auto organização. O MST enxerga as crianças não como futuro, mas como presente, elas estão na luta também”, explica.
Escolas no campo
Durante os três dias do encontro aconteceram debates, rodas de conversa, atividades culturais, oficinas, visitas ao Aquário da cidade, Museu do Amanhã e Cinemateca do Museu de Arte Moderna (MAM) e muita brincadeira.
Na segunda-feira (30), para encerrar as atividades do encontro, as crianças se reuniram na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) para uma audiência pública sobre educação no campo. No plenário, elas leram uma carta pedindo atenção da Comissão de Educação da Casa para a gravidade da realidade da educação em áreas rurais.
De acordo com o documento, as escolas do campo são as que mais estão sofrendo com a precarização do sistema público de educação, com falta de profissionais, de estruturas mínimas de trabalho e com o processo de fechamento das escolas que obriga crianças e jovens a se deslocarem quilômetros para estudar nas cidades.
Você Sabia?
Os Encontros das Crianças Sem Terrinha são realizados desde 1997 no estado do Rio de Janeiro, contribuindo para a sensibilização das crianças, adolescentes assentados ou acampados e seus familiares para temas como reforma agrária, meio ambiente e educação ambiental, agroecologia e a história de luta pela terra. Os encontros também denunciam as condições que as crianças enfrentam nas escolas e proporcionam lutas pelos seus direitos.
Edição: Raquel Júnia