A crise da saúde municipal do Rio de Janeiro está se aprofundando nos últimos meses. Depois da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) anunciar que não vai conseguir cumprir o orçamento deste ano, mesmo após cortar mais de R$ 540 milhões do que havia previsto inicialmente, trabalhadores e usuários amargam a precariedade da estrutura das unidades de atendimento.
Todos os dias, a população carioca que procura a atenção básica tem que lidar com falta de medicamentos, aproximadamente 67,3% do total dos itens previstos, e aumento da fila de espera para exames complexos, consultas especializadas e cirurgias, estima-se que a demora esteja 80% maior se comparada ao ano passado.
“A saúde no Rio hoje está muito precária. Falta insumos, medicação, suporte, falta tudo, inclusive falta compromisso da gestão. E também estamos sem salário com vários colegas com necessidades de aluguel para pagar, contas e sem previsão de quando vai receber”, explica Wagner Souza, vice presidente do Sindicato dos Agentes Comunitários da Saúde do Rio (Sindacs/RJ).
Como lembra Wagner, parte dos profissionais que continuam trabalhando estão com salários atrasados desde setembro. Complicando ainda mais esse quadro, cerca de 150 trabalhadores de diversas áreas foram demitidos nos últimos meses.
Para reivindicar que os serviços continuem a ser prestados e os profissionais recebam seus salários em dia diversas categorias anunciaram greve. Médicos, psicólogos, técnicos e auxiliares de enfermagem confirmaram adesão ao movimento nas últimas semanas. Enfermeiros e agentes comunitários vão decidir se participam ou não da greve nos próximos dias.
“Aprovamos a greve por tempo indeterminado, justamente para cobrar materiais básicos, insumos, exigir calendário de pagamento até final do ano, para que o orçamento contingenciado seja liberado e para tentar garantir mais investimento para o ano que vem. Nossa luta é muito mais do que só salário, é para garantir atendimento de qualidade para a população”, explica o médico Alexandre Telles, diretor do Sindicato dos Médicos do Rio (Sinmed-RJ).
O início da greve acontece nesta quinta-feira (26), após um ato na Câmara dos Vereadores, com diversas categorias de trabalhadores. A data foi escolhida porque nela foi apresentada ao público a proposta de lei orçamentária para o próximo ano, em que está previsto o corte de mais de 20% do investimento na área da saúde.
“É inviável prestar atendimento quando se tem relato da SMS de que falta mais de R$ 500 milhões para fechar o orçamento da saúde neste ainda. E ainda mais tenebroso quando eles enviam um orçamento menor para o ano que vem. Ou seja, já perdemos o valor da inflação e ainda teremos um investimento menor. Contamos com o apoio da população para pressionar contra tantos ataques à saúde pública”, conclui o médico Alexandre Telles.
A Prefeitura do Rio afirmou em nota que está tentando regularizar a situação das unidades de saúde da rede municipal. Procurada pelo Brasil de Fato, a assessoria da SMS não se posicionou sobre a greve dos profissionais da saúde.
Edição: Vivian Virissimo