Há pouco mais de 100 anos, em março de 1917, milhares de pessoas tomavam as ruas da capital russa Petrogrado, que hoje se chama São Petersburgo. Operários e camponeses reivindicavam pão, diante da miséria em que viviam. A partir daí e de outros seguidos eventos, a primeira revolução comunista da história seria inaugurada na Rússia.
Apesar de parecer distante, essa história pode ser acompanhada de perto no Rio de Janeiro, até o próximo dia 30, na peça “Dez dias que abalaram o mundo”. Nela, o público se torna a multidão de russos que acompanha a efervescência dos eventos nas ruas. Diferente da tradicional forma de fazer teatro, a plateia formada por cerca de 600 pessoas é conduzida de pé até a rotina dos trabalhadores nas fábricas, nas audiências públicas, nas discussões políticas e nas manifestações de rua.
“Um dos problemas que a gente tinha para fazer um espetáculo sobre a Revolução Russa é que ela se faz com a multidão na rua e a gente não tinha a menor condição de fazer um elenco tão grande. Então, quem são as pessoas que estão na rua fazendo a revolução? É o público. É como espetáculo de feira, você pode escolher de onde quer ver a história”, explica Tuca Moraes, diretora de produção da Companhia Ensaio Aberto.
“Dez Dias que Abalaram o Mundo” está em cartaz no Armazém da Utopia em comemoração aos 100 anos da Revolução Russa e os 25 anos do Grupo. Com direção de Luiz Fernando Lobo, a peça é uma adaptação do livro de mesmo nome do jornalista norte-americano John Reed.
“Não existe resistência sem memória. É incrível como nós conhecemos pouco desta revolução, que foi construída por operários e camponeses. De dentro para fora, de baixo para cima, a democracia popular foi uma construção das massas, como falamos no espetáculo. Outro evento pouco conhecido é que as mulheres iniciaram a revolução. Elas fizeram uma manifestação dizendo que não aguentavam mais. Aí começa a revolução”, acrescenta Tuca.
A peça ficará em cartaz em curta temporada de apenas duas semanas. Apesar disso, a companhia espera atingir muitas pessoas, já que a temporada tem quase todos os 600 ingressos diários esgotados. O público é formado, principalmente, por estudantes de colégios cariocas. Para quem não conseguir assistir desta vez, terá uma segunda chance no próximo ano, quando a peça voltará à programação do Armazém da Utopia.
“É uma história muito importante de se entender para saber que a gente ainda pode lutar por um mundo mais justo. A gente ainda tem caminhos para todos os retrocessos que estamos vivendo neste momento no país e no mundo. Pensar em como essa revolução foi construída é tentar acender uma faísca”, conclui Tuca.
Edição: Vivian Virissimo