Celebramos quando o Brasil foi escolhido para sediar a Copa do Mundo de 2014. Fechamos os olhos para todo o dinheiro desviado e superfaturado na construção das “arenas”. Assistimos passivamente à remoção de casas e escolas para a construção das estruturas pedidas pela FIFA. Aturamos grandes ídolos do esporte afirmando em alto e bom som que “não se faz Copa do Mundo com hospitais e escolas”. E acordamos com a porrada dos 7 a 1 e o surgimento de uma névoa de pessimismo e descrença com o chamado “futebol nutella”. Gol da Alemanha.
Celebramos quando o Rio de Janeiro foi escolhido como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Seguimos o mesmo processo. Fingimos que não era conosco quando o custo das obras chegou na estratosfera. Cobramos resultados dos nossos atletas como um dono de uma mega-corporação cobra produtividade de seus empregados sem se preocupar com um mínimo de condições de trabalho. Assistimos Carlos Arthur Nuzman, nome até então intocável do Comitê Olímpico Brasileiro, indo para a cadeia depois de denúncias de irregularidades na escolha da sede para as Olimpíadas.
Seguimos celebrando, ébrios pelas medalhas, pelas vitórias e pela inércia que nos caracteriza há séculos.
Hoje eu me coloco como um fã do esporte completamente decepcionado com tudo o que foi relatado. Admirador confesso de lendas do esporte e do jornalismo esportivo lamento profundamente que a situação tenha chegado nesse ponto. Difícil saber onde erramos. Onde falhamos. Ou onde deveríamos parar de celebrar.
Como dizia Renato Russo, esse é o “Nosso castelo de cartas marcadas, o trabalho escravo, nosso pequeno universo. Toda a hipocrisia e toda a afetação. Todo roubo e toda indiferença. Vamos celebrar epidemias. É a festa da torcida campeã.” Preferimos a vitória a qualquer custo ao trabalho duro e honesto dentro da gestão esportiva, descobrindo talentos melhorando a qualidade de vida de todos.
Mas seguiremos celebrando. Afinal, a rodada vai começar novamente. E se meu time não vencer, não é meu time. Mas se vencer, vocês vão ter que me engolir.
Grande abraço e até a próxima.
Edição: Mariana Pitasse