INFÂNCIA

Encontro dos Sem Terrinhas reúne centenas de crianças em Caruaru (PE)

Além de brincadeiras e oficinas lúdicas, os pequenos marcharam sobre a cidade e entregaram reivindicações às autoridades

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Crianças participaram de brincadeiras, jogos, oficinas pedagógicas e também fizeram política
Crianças participaram de brincadeiras, jogos, oficinas pedagógicas e também fizeram política - Comunicação/Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

Teve início no último domingo (8) e se estendeu até a terça-feira (10) mais uma edição do Encontro dos Sem Terrinhas de Pernambuco. É o 13º encontro infantil promovido pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no estado. Este ano o evento reuniu 800 crianças de 4 a 12 anos de idade na cidade de Caruaru, região Agreste do estado.

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Na noite de abertura do encontro, no domingo (8), as crianças brincaram com palhaços, houve apresentação de teatro de mamulengo, muita pipoca e algodão doce. A segunda-feira foi reservada para as diversas oficinas diretas, de pintura, capoeira, corda bamba, fabricação de sabonetes e outras, oferecidas por artistas e estudantes que se colocaram à disposição do encontro.

Um grupo de 100 crianças foi ao Centro Acadêmico do Agreste (CAA) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) para conhecer a instituição, foram à biblioteca, brinquedoteca e participaram de oficinas e jogos pedagógicos. Ainda na segunda as crianças socializaram o aprendizado das oficinas e, à noite, participaram de uma festa infantil, para dançarem e se divertirem.

Uma das dirigentes do MST que ajudam a construir o encontro é Rubneuza Leandro. Ela afirma que que o evento, sempre realizado na semana do dia das crianças, tem por objetivo trabalhar a infância dentro do movimento e fortalecer entre as crianças os valores e as vivência da infância sem terra. “As crianças participam do processo de luta desde a ocupação. E a luta tem de forjar os construtores do futuro”, afirma a sem terra. O encontro dos Sem Terrinhas ocorre desde 1996. Cerca de 100 dessas crianças participarão, em 2018, do 1º Encontro Nacional dos Sem Terrinhas.

Durante os três dias de encontro, são trabalhadas três dimensões da infância. A primeira, a lúdica, está presente nas brincadeiras, nos jogos, na programação cultural com palhaços. A segunda dimensão é a pedagógica, que está presente no estudo da temática do encontro – a deste ano foi alimentação saudável –, pelas músicas infantis construídas dentro do próprio movimento, as oficinas vivenciadas durante o encontro e até mesmo no ato de se deslocar de uma região para outra.

A terceira dimensão é a política e organizativa, que tem início já na preparação para ir ao encontro, na construção da pauta de reivindicações aos órgãos governamentais e culmina com a marcha, em que colorem as ruas com suas bolas de festa e ornamentos, fazendo uma caminhada festiva para o diálogo com os representantes do poder público.

Tanto na noite de abertura como em momentos da segunda-feira as crianças foram provocadas a responder o que elas querem para viver bem no campo. “Entraram na pauta a construção das escolas de nível médio, para que os jovens não parem de estudar ao concluir o fundamental e nem precisem sair dos assentamentos para estudar; contra o fechamento das escolas do campo, que é algo que tem afetado muito essas crianças, porque as prefeituras estão fechando as escolas; e os dois ônibus para as crianças irem ao 1º Encontro Nacional dos Sem Terrinhas, em maio de 2018”, diz Rubneuza Leandro.

Também entraram na pauta reivindicações ao Governo Federal, como o fim dos cortes nos recursos para reforma agrária e o início dos cursos do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), que são cursos técnicos nas áreas de agronomia, serviço social e história para a juventude sem terra.

As reivindicações foram entregues às autoridades nessa terça-feira (10), dia que começou cedo para os 800 pequenos. Eles saíram em marcha do Assentamento Normandia, passaram pelo Colégio Municipal até chegarem ao Marco Zero da cidade. No local as crianças entregaram suas pautas a representantes da Prefeitura de Caruaru, do Governo de Pernambuco e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), órgão do Governo Federal.

Rubneuza conclui que o encontro dos Sem Terrinhas visa fortalecer a vivência da criança e constituí-la como sujeito coletivo e de luta. “É isso que constitui a infância sem terra, forjando o construtor do futuro. Dentro da luta tem o lugar da infância e nessa infância precisamos alimentar o projeto de futuro, vivenciando no presente e na prática esse futuro em que as crianças possam viver com dignidade”, diz a dirigente.

Edição: Monyse Ravena