É bem possível que vocês estejam estranhando o fato de eu começar mais essa coluna falando do lado derrotado. Afinal, o Grêmio venceu o Botafogo por um a zero na sua Arena (com um gol marcado pelo paraguaio Lucas Barrios) e se classificou para as semifinais da Copa Libertadores da América. Mas o futebol é um esporte cheio de particularidades e lições que não podem ser deixadas para trás. E esse é o caso do jogo da última quarta-feira.
Lembro a você, caro leitor (e caro ouvinte) que Jair Ventura assumiu o comando técnico do Botafogo com o time sendo apontado como candidato fortíssimo ao rebaixamento na temporada passada. O time estava em décimo-sétimo lugar e terminou o Brasileirão na zona de classificação para a Libertadores da América. É verdade que o Glorioso não jogava um futebol vistoso como o Real Madrid e o Barcelona, mas era sim um estilo de jogo bastante eficiente e, muitas vezes, letal para os adversários. E Jair Ventura conseguiu fazer tudo isso reunindo um time de operários, sem uma grande estrela no seu elenco. Marcação, disciplina tática, dedicação, determinação e polivalência são algumas das características desse time. Vale aqui citar jogadores como Bruno Silva, João Paulo, Victor Luís, Joel Carli, Gatito Fernández, Rodrigo Lindoso, Rodrigo Pimpão e Matheus Fernandes, atletas que não eram tão badalados quando chegaram ao clube e hoje ganharam o respeito dos torcedores por terem feito parte de um Botafogo forte e temido pelos adversários.
Se você ainda não acredita, veja os times que o Botafogo superou na Libertadores até às quartas de final: Colo-Colo, Olimpia, Nacional de Medellín (atual campeão), Estudiantes de La Plata e Nacional de Montevidéu, todos clubes tradicionais e com história na competição. E toda vez que a imprensa desacreditava o time, lá iam eles e se superavam mais uma vez. Difícil não fazer o paralelo com o próprio povo brasileiro, que vem tendo de se superar nesses últimos anos para tentar garantir um mínimo de dignidade apesar das bravatas e das injustiças do dia a dia.
Jair Ventura é o grande vencedor dessa semana. Mostrou que não é preciso ter um time de estrelas para chegar longe, mas que é preciso suar, se dedicar e se superar todo dia para chegar ao ponto mais alto. E mesmo na cultura de resultados que domina o futebol brasileiro, o feito do Botafogo merece aplausos calorosos de quem é apaixonado pelo velho e rude esporte bretão.
Grande abraço e até a próxima.
Edição: Mariana Pitasse