Todo mundo sabe que o futebol mundial está mais do que marcado por negociações milionárias. É tanto zero envolvido nas principais transações entre os grandes clubes europeus que as próprias federações nacionais e continentais (e até mesmo a poderosa FIFA) adotaram mecanismos de “fair play financeiro” como uma tentativa de dar um pouco de equilíbrio ao mercado internacional. Mas essa é apenas uma faceta do “velho e rude esporte bretão”. Longe dos principais centros do futebol, em países mais pobres, a realidade é bem diferente. Com salários mais baixos (isso quando são pagos), diversos jovens buscam o estrelato e se igualar a craques como Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar, dentre outros.
Essa situação precária, por vezes provoca reações que não costumam fazer parte do noticiário esportivo, mas que são mais comuns do que você imagina. Aqui mesmo, no Brasil, no dia 13 de agosto desse ano, o time do Mogi Mirim se recusou a jogar contra o Ypiranga de Erechim pelo Campeonato Brasileiro da Série C em protesto contra o atraso no pagamento dos salários. Alguns profissionais não recebiam há seis meses. No início de 2017, na Argentina, o campeonato nacional ficou paralisado por causa de uma greve comandada pelo sindicato dos jogadores (os Futebolistas Argentinos Agremiados, a FAA), que exigiam o repasse imediato do depósito do governo pela rescisão do contrato de transmissão para o pagamento de salários atrasados de atletas. Na Bolívia, em agosto de 2017, a situação foi bem parecida e só foi resolvida após garantias do pagamento dos salários atrasados dos jogadores.
Talvez uma das greves mais emblemáticas tenha acontecido no final da década de 1940 na Argentina. Naqueles tempos, a Albiceleste contava com uma das melhores seleções do mundo e viria ao Brasil como favorita para a Copa do Mundo. E como o futebol imita a vida, as lutas sociais também chegaram ao velho e rude esporte bretão. Assim sendo, nos anos de 1948 e 1949, uma greve foi organizada pelos atletas, que exigiam o fim do passe e a instauração de planos de assistência médica a seus familiares e um salário mínimo para a base. Como as exigências não foram atendidas, vários nomes famosos como Alfredo Di Stéfano e Adolfo Pedernera rumaram para fora do país e a Argentina ficou fora do Mundial de 1950 por ter sido preterida em favor do Brasil para sediar a Copa.
São muitas as histórias sobre greves e envolvimento político de jogadores de futebol. Certo é que o esporte mais amado do mundo pode explicar como nossa sociedade funciona e se comporta. Dentro e fora dos estádios.
Edição: Raquel Júnia