A situação atual da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) continua no centro das preocupações dos especialistas que se dedicam ao tema da comunicação pública no país. Para Franklin Martins, ex-ministro das Comunicações do governo Lula, a empresa ainda poderia ser revitalizada, desde que o país consiga superar a crise política atual, marcada pelo avanço do aparelhamento em relação ao patrimônio público.
“Acho que a experiência que se teve com a criação da EBC, com os acertos e erros, com os avanços e as paralisias, acho que, amadurecendo, irá, de uma certa forma, impulsionar um processo de uma reconstrução com mais vitalidade pra EBC, que enfrente alguns problemas que ela tinha”, disse o ex-ministro.
Um dos responsáveis pela criação da empresa, em 2008, Martins conversou com o Brasil de Fato durante sua passagem pelo seminário “Os desafios da comunicação na administração pública”, neste final de semana, em São Luís, no Maranhão.
Ao pensar o futuro da empresa, o ex-ministro cita alguns exemplos de mudanças que poderiam contribuir não só para a recuperação da essência da comunicação pública, mas também para a melhoria da experiência da EBC:
“A EBC precisa de mais recursos, precisa ter um sinal que alcance todo o país, de rádio e de televisão, ela precisa ter um formato jurídico-institucional que dê a ela as condições de competir com empresas privadas que estão no mercado. Acho que há uma série de problemas que poderão ser solucionados, mas a preliminar é afastar o governo golpista e passar por um processo de reorganização democrática do país”, apontou.
A criação da EBC marcou o início da trajetória da comunicação pública no Brasil, mas a empresa vive uma fase de remodelação desde o primeiro semestre do ano passado, após o golpe que afastou a presidenta Dilma Rousseff, do PT.
A mudança de rumo começou com a deposição do então diretor-presidente, Ricardo Melo, e a publicação da Medida Provisória 744, que alterou a estrutura da EBC e extinguiu o Conselho Curador, órgão que garantia o acompanhamento da sociedade em relação à produção dos veículos.
Recentemente, a diretoria aprovou um Plano de Demissão Voluntária (PDV) para os funcionários e estuda ainda a possibilidade de fusão da TV Brasil com a TV NBR, que é ligada especificamente ao Poder Executivo.
“Vai ser uma grande comunicação oficialesca. É uma destruição da comunicação pública”, criticou Ricardo Melo, também durante o seminário, demonstrando preocupação com o futuro da empresa.
Na mesma sintonia, a jornalista Tereza Cruvinel, uma das fundadoras da EBC, considera que a EBC vive “uma completa destruição”. Apesar disso, assim como Franklin Martins, ela acredita na possibilidade de recuperação da comunicação pública no país.
“Primeiro, vamos derrubar o golpe; depois, vamos restaurar as instituições, e a comunicação pública deve ser uma das prioridades”, finalizou.
Edição: Camila Salmazio