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Violeta Parra: militante política chilena cantou a cultura e o folclore de seu povo

A artista multifacetada faria 100 anos em 2017

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A artista tinha paixão pelo folclore andino e retratou a cultura em suas composições
A artista tinha paixão pelo folclore andino e retratou a cultura em suas composições - Arquivo pessoal
A artista multifacetada faria 100 anos em 2017

A canção “Gracias a la vida” é um dos clássicos que eternizou a obra da chilena Violeta del Parra Carmen Sandoval, cujo nome artístico é Violeta Parra. A artista multifacetada faria 100 anos em 2017.

Desde muito cedo, ainda em sua cidade natal, a pequena San Carlos, no Chile, Violeta mergulhou no folclore andino e retratou como ninguém a cultura chilena. Em entrevista para a rádio da Universidade de Concepción, no Chile, em 1960, Violeta fala de sua paixão pela música e sensibilidade de seu povo: "Nas minhas andanças em busca da canção popular chilena, conheci os mais variados tipos de cantores populares. Uma visão mais clara possível, mais sincera possível da alma e dos nossos cantores autênticos", diz Violeta. 

Filha de uma camponesa e de um músico, Parra ficou conhecida pelo seu temperamento forte e engajamento político. Além de cantora e compositora, também era ceramista, pintora e arpilleira, que é uma técnica de bordado chilena. E foi através desses canais que ela narrou a indignação com as desigualdades sociais, as dificuldades da própria vida e a admiração pelas lutas da juventude da época.  

Toda a  intensidade de Parra, chamou a atenção da cantora Sarah Abreu ainda na infância, ao ouvir as canções da artista colocadas pela mãe, na cidadezinha mineira de Varginha, tão pequenina quanto o povoado de Violeta.  

"Ela tinha essa força de buscar a cultura popular lá no chão, na terra, com um gravador, pesquisando, carregando os filhos e cantando com eles. Deu pra ter uma ideia do tamanho dessa mulher e da importância dela pra música mundial, não só latinoamericana, mas ela tem uma importância política, ela era comunista.", comenta Sarah. 

O encantamento de Sarah com a obra da artista se transformou em um disco em homenagem a chilena: o álbum Violeta: Terna e eterna traz canções icônicas e tem participação de Tita Parra, neta de Violeta. Assim como Sarah, o músico Milton Nascimento gravou a canção "Volver a los 17", no icônico álbum "Geraes", com participação de "La Negra", como é conhecida a cantora Mercedes Sosa, uma das principais difusoras da obra de Parra. 

Uma das canções da artista eternizadas na voz de Sosa é  a "Me gustan los estudiantes", que em 2011 foi hino da luta de estudantes chilenos, contra o governo de Sebastián Piñera e a crise na educação. 

Além da música, as artes plásticas fitavam Parra, que foi a primeira latino-americana a ter exposição individual no museu do Louvre, em Paris, no ano de 1964. Lá, ela expôs uma de suas obras conhecida internacionalmente, a "Contra La Guerra", que retrata a preocupação com as tensões entre Chile e Bolívia e o iminente ataque a Cuba, por mísseis americanos.

Violeta criou um Centro Cultural folclórico, em 1965, no bairro de La Reina, em Santiago, que teve muito sucesso em seus primeiros meses, mas que depois fora abandonado. Anos depois, em 1967, o lugar foi cenário do suicídio da cantora.  

As expressões da artista de múltiplas vidas foram eternizadas pelos filhos dela em 2009 com a criação da "Fundação Violeta Parra", em Santiago. Em 2012 é inaugurado o memorial Violeta Parra, no edifício conhecido como "La Jardinera", nome extraído de uma de suas canções autobiográficas. 

Jardineira, costureira, tocadora, desafiadora de limites. Poeta, pintora e agricultora. Como diz o poema do irmão mais velho dela, Nicanor Parra.  
 
Todos los adjetivos se hacen pocos 
Todos los sustantivos se hacen pocos 
Para nombrarte. 
Violeta Parra.
 
 

Edição: Camila Salmazio