Teatro político

Companhia do Latão celebra 20 anos de palco com mostra "Histórias do Latão"

Cia. reúne sucessos da sua trajetória marcada por forte vínculo com movimentos populares

Brasil de Fato | SP |

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 A identidade da Companhia é marcada por seu interesse na pesquisa e em realizar ações pedagógicas
A identidade da Companhia é marcada por seu interesse na pesquisa e em realizar ações pedagógicas - Marcelo Cruz

Inspirados pelo ensaio “A compra do latão” de Bertold Brecht, um grupo de atores e dramaturgos decidiu se articular coletivamente para pesquisar e produzir teatro e cultura. O texto batizou o grupo, e assim nasceu a Companhia do Latão, que completa 20 anos de existência neste mês.

Encantada pela poesia marxista do dramaturgo alemão, Brecht, a Companhia aborda em suas obras temáticas como a dialética, a luta de classes e o mundo do trabalho. O diretor, Sérgio de Carvalho, relata que, para o grupo, atuar é um ato político. "Representar não é uma coisa neutra. De algum jeito, ao contar uma história, você toma partido", afirma.

Carvalho conta ainda que o vínculo da Companhia com os movimentos populares se deu após a temporada de duas peças: "A Comédia do Trabalho", de autoria própria, e "Santa Joana dos matadouros", um texto de Brecht. "A partir desses trabalhos, especialmente do Santa Joana, vários coletivos como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), e outros movimentos organizados, sindicatos à esquerda começaram a procurar a gente. É como se o teatro não fosse mais um lugar só de indivíduos, mas fosse um lugar de coletivos que começavam a ir ao nosso encontro"," explicou o diretor.

Na época, "A comédia do trabalho" teve uma pré-estreia no assentamento do MST em Rio Bonito do Iguaçu (PR) e reuniu caravanas de trabalhadores rurais que foram até o local prestigiar a Companhia. Além disso, a obra foi interpretada em diversos sindicatos no Brasil e em outros países.

Reconhecimento

Um grande marco nesses 20 anos de Latão foi um prêmio recebido pelo espetáculo "O círculo de Giz", dado pela União dos Artistas de Cuba, em Havana. A essa altura o grupo já tinha mais de 10 anos de estrada, e ter o seu trabalho reconhecido internacionalmente foi muito gratificante.

A identidade da Companhia é marcada por seu interesse na pesquisa e em realizar ações pedagógicas e oficinas de dramaturgia. O grupo tem diversos livros publicados, muitos deles pela editora Expressão Popular, e isso é uma prioridade para os artistas. 

Para a Companhia, o teatro político não se restringe a abordar temas políticos, mas sim a uma atitude de se politizar a partir do contato com setores avançados e críticos da sociedade. "E também politizar as nossas relações de trabalho dentro da Companhia, no sentido de buscar o trabalho não especializado, não alienado. Cada um tem a sua função, no Latão elas são bem claras, direção, dramaturgia... Mas todos acompanham o que está sendo feito. Você, como ator, acompanha o trabalho do dramaturgo, do diretor, você não é um cara que vai receber ordens e cumprir uma função alienada", enfatiza a atriz Helena Albergaria, que atua na companhia desde sua fundação.

A trajetória de militância do grupo pede que a data de 20 anos seja celebrada. Para isso, durante o mês de agosto, a Companhia preparou a mostra "Histórias do Latão", que conta com a exibição de espetáculos de grande sucesso do grupo, aclamado pelo público, bem como oficinas e aulas públicas. O diretor frisa que a conjuntura política clama por uma resistência, e que o teatro é um grande espaço para isso. "Continuarmos existindo é muito importante num momento como este", finalizou.

Veja o vídeo:


Confira a programação completa: 

EXPERIMENTO H

Curtíssima temporada, entre 9 e 13 de agosto. Quarta, quinta e sexta, 20 horas. Sábado e domingo, 16 horas.

A peça mostra cenas da vida de mulheres incomuns, a diarista Mary Sanches e a atriz Marilyn Monroe, em sua relação com o escritor Truman Capote. Com Helena Albergaria, Kiko do Valle e Lourinelson Vladmir. Música de Cau Karam.

A COMÉDIA DO TRABALHO

Curtíssima temporada. Sextas 18 e 25 às 20 horas. Sábados 19 e 26 de agosto às 16 horas.

Maior sucesso popular da Companhia do Latão, a peça escrita no ano 2000 é uma sátira de agit-prop ao neoliberalismo. Texto final de Sérgio de Carvalho e Márcio Marciano a partir de criação coletiva. Com Alessandra Fernandez, Érika Rocha, Heitor Goldflus, Helena Albergaria, Ney Piacentini. Música de Walter Garcia e Lincoln Antonio.

CENAS DE O EVANGELHO SEGUNDO ZEBEDEU DE CÉSAR VIEIRA, COM PALESTRA DO AUTOR.

Sábado, 19 de agosto, 18 horas. Atividade gratuita.

Cenas da peça O Evangelho segundo Zebedeu, de César Vieira, encenadas pelo Latão para o projeto comemorativo dos 50 anos do Teatro União e Olho Vivo, seguida de conversa com o autor. Com Álvaro Franco, Beatriz Bittencourt, Carlos Escher, Erika Rocha, Gabriel Stippe, João Filho, Ney Piacentini, Sol Faganello. Música: Cau Karam, Deborah Penafiel e Nina Hotimsky.

AULAS PÚBLICAS: ATUAÇÃO DIALÉTICA NA COMPANHIA DO LATÃO

Sábado, 26 de agosto, 18 horas. Atividade gratuita.

Palestras de Sérgio de Carvalho e Ney Piacentini sobre a os procedimentos de trabalho de ator do Latão, inspirados nos métodos de Brecht e Stanislavski.

TERTÚLIA DO LATÃO

Sábado, 2 de setembro, 18 horas. Atividade gratuita.

Encontro cênico-musical com convidados da Companhia do Latão, com apresentação de cenas inéditas criadas durante o mês de agosto, com a presença de colaboradores do grupo.

OFICINA PRÁTICA DE ATUAÇÃO DIALÉTICA

Terça 29 de agosto a sexta 1 de setembro, das 13h30 às 17h30.

Oficina ministrada por Helena Albergaria e Sérgio de Carvalho. Quatro encontros de intercâmbio com atores profissionais ou estudantes de teatro interessados no estudo do teatro dialético.

PREÇOS

INGRESSOS DOS ESPETÁCULOS: R$40 (inteira) e R$20 (meia)

OFICINA: R$ 100. INSCRIÇÕES - AQUI.

LOCAL

ESTÚDIO DO LATÃO

Rua Harmonia, 931 (próximo ao metrô Vila Madalena)

Informações: [email protected] | Telefone: 3814-1905


 

Edição: Simone Freire