O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocupou na manhã desta terça-feira (25) a fazenda Esmeralda, localizada entre as cidades de Lucianópolis e Duartina, na região centro-oeste do interior de São Paulo. Cerca de 800 sem-terra chegaram ao local por volta das 6h da manhã para a ação que faz parte da Jornada Nacional de Lutas do movimento, sob o lema “Corruptos Devolvam Nossas Terras”.
Segundo Mercedes Zuliane, dirigente nacional do MST, “o objetivo da Jornada é denunciar o achaque à Constituição brasileira promovido pelo governo golpista de Michel Temer, tanto com as medidas provisórias absurdas que vem destruindo os direitos dos brasileiros, como suas práticas corruptas escancaradas, junto a seus aliados”, diz a dirigente.
A propriedade, registrada no nome da empresa Argeplan (Arquitetura e Engenharia LTDA) e também no nome de João Batista Lima Filho, conhecido como Coronel Lima, assessor e amigo pessoal do presidente golpista Michel Temer - e um dos sócios da Argeplan - tem cerca de 1.500 hectares e ostenta luxos como uma piscina, salas decoradas e possui apenas produções de eucalipto.
Moradores da região afirmam que a fazenda é de propriedade de Temer e Lima seria apenas um testa de ferro, ou seja, serviria para acobertar possíveis irregularidades de Temer em relação à área. Entrevistados que optaram por não se identificar à reportagem do Brasil de Fato garantem que o local é um “quartel general, utilizado pelo peemedebista para reuniões privativas de seu partido”.
Essa é a segunda vez que o MST ocupa a fazenda Esmeralda. Na primeira, em maio de 2016, integrantes do movimento encontraram no local uma carta escrita endereçada a Temer ainda nos anos 1990, além de materiais de campanha do peemedebista à Câmara em 2006.
A assessoria de Temer afirmou à época da primeira ocupação que o presidente golpista utilizou o local como refúgio durante a campanha de 2014, quando ainda era vice-presidente.
Além da ocupação da fazenda Esmeralda, em São Paulo, o MST organiza outras dez ações simultâneas de ocupações de terras em todo o país, nas regiões Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste do Brasil.
Argeplan
A empresa de arquitetura e engenharia, com sede na Vila Madalena, região nobre de São Paulo é investigada na Operação Patmos da Polícia Federal. A ação teve origem na delação premiada de Florisvaldo Caetano de Oliveira, da empresa JBS, que afirmou ter entregado R$ 1 milhão nas mãos do Coronel Lima na campanha de 2014, valores que segundo o delator, fazem parte de um acordo que teria sido firmado entre Temer e Joesley Batista, um dos donos da empresa do ramo de proteína animal.
Durante a operação que investigou a sede da Argeplan, foram encontrados papeis que tratam da campanha eleitoral de Temer em 2002, além de documentos sobre a reforma da casa de uma das filhas do peemedebista, Maristela Temer.
Lima foi assessor de Temer quando esse ocupava o cargo de secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, em 1985. Nos anos 1990, Coronel Lima e sua empresa, a Argeplan, contribuíram com campanhas de Temer à Câmara dos Deputados. Em uma delas, em 1994, o peemedebista teria recebido ao menos R$ 500 mil em valores atualizados.
No ano passado, uma reportagem da revista "Época" revelou que José Antunes Sobrinho, engenheiro da empreiteira Engevix, contou em depoimento da operação Lava Jato que a Argeplan, empresa do Coronel Lima, foi a ganhadora de uma licitação de obras na usina Angra 3, no valor de R$ 162 milhões, por influência direta do presidente golpista Michel Temer.
Segundo Mercedes Zuliane, “o crescimento econômico e político de ambos aconteceu simultaneamente, evidenciando a parceira de Temer e Coronel Lima a longo prazo”, diz.
Reforma Agrária
A Jornada Nacional de Lutas também debate as ameaças do governo Temer à luta no campo. O MST faz coro contrário à MP 759, que promove mudanças na lei da reforma agrária, especialmente sobre a titulação dos assentamentos. A Medida abriria a possibilidade de comercialização dos lotes pelas famílias assentadas.
Durante a Jornada, o movimento também critica a proposta do governo Temer que viabiliza a venda de terras para estrangeiros. Entre os argumentos contrários ao projeto, estaria a questão de uma possível explosão nos valores das áreas, inviabilizando possíveis desapropriações, assim como problemas relacionados à soberania nacional, principalmente no caso das terras em áreas de fronteira.
Edição: Luiz Felipe Albuquerque