O primeiro ano do Acampamento Maria Rosa do Contestado virou filme. “Doze meses de resistência: a terra como horizonte de vida” retrata o cotidiano das 150 famílias camponesas que vivem na ocupação, localizada em Castro, a 160 km de Curitiba.
O documentário é resultado do trabalho da Agência de Jornalismo, Programa de Extensão do Curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), que mantém a parceria com várias entidades, grupos e movimentos sociais populares. Outras ações de comunicação e jornalismo são realizadas em parceria entre a Agência e comunidades do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na região.
Ao longo de 46 minutos, o filme apresenta relato de camponeses e camponesas sobre o dia da ocupação Maria Rosa, o cotidiano, a luta pela terra, as conquistas, como a geração de trabalho e renda e o cultivo de alimentos a partir da agroecologia. As famílias sem-terra vieram dos municípios de Castro, Lapa, Teixeira Soares, Ipiranga e Ponta Grossa, todos com o desejo em comum de conquistar um pedaço de terra para morar e produzir.
“Tentamos registrar, a partir do depoimento dos acampados, o sentido e importância da luta pela terra e as mudanças em suas vidas em um ano de ocupação através do MST”, disse a professora da UEPG e orientadora do projeto Hebe Gonçalves, que também coordena a Agência de Jornalismo.
A Festa Junina da comunidade Maria Rosa, realizada no dia 8 de julho, formou a plateia para o lançamento do documentário. “Produzir o documentário foi uma experiência muito rica, um aprendizado. Um trabalho que fiz com muito amor”, disse Gabriel Ferreira Clarindo Neto, estudante produtor e editor do filme, durante o lançamento.
O filme está disponível no youtube, no facebook, e será veiculado na TV Comunitária de Ponta Grossa (TVCom, canal 17, no cabo). A dificuldade de acesso à internet não impedirá a divulgação do material: a comunidade recebeu 20 cópias físicas no formato DVD do documentário.
Para uso da música “Canção da Terra” como trilha sonora do documentário, Agência de Jornalismo obteve autorização gratuita do próprio cantor e compositor gaúcho Pedro Munhoz e da Som Livre 100% Edições Musicais.
Terra para morar e produzir
Para o integrante do MST Joabe Mendes de Oliveira, o videodocumentário possibilita mostrar o projeto do movimento voltado à agricultura orgânica no país: “O vídeo é um meio de expor o projeto que, de fato, a gente está construindo. Através do Acampamento Maria Rosa, a gente quer que todos os acampamentos do Estado do Paraná se transformem numa grande matriz tecnológica agroecológica, de produção orgânica, para fazermos o contraponto a esse modelo colocado aí”.
Na avaliação do agricultor, a produção baseada em monocultivo inviabiliza a pequena propriedade, não gera renda e empregos, além de destruir a biodiversidade e expulsar camponeses, indígenas e comunidades tradicionais. “Estamos fazendo o contraponto, dizendo que queremos usar essas terras para produzir comida saudável e barata, direto para mesa do consumidor. Através desse vídeo, podemos mostrar a importância da agricultura orgânica no nosso país hoje”.
Integrante do Acampamento Maria Rosa, Rosane Mainardes também frisou a relevância do vídeo para o registro histórico da comunidade: “Foi muito gratificante ver e ouvir um pouco das histórias das famílias e as formas que elas chegaram ao acampamento. Ver os olhares delas de felicidade e de grandes conquistas. Ver a importância que elas falavam do alimento sem agrotóxico e a diferença que o Movimento Sem Terra teve em suas vidas. Esse filme resgata a importância da reforma agrária”.
Homenagem a uma líder cabocla
Cerca de 150 famílias, entre homens, mulheres e crianças, ocuparam a Fazenda Capão Cipó às 5h da manhã de uma segunda-feira, em 24 de agosto de 2015. A área de 300 hectares está situada a sete quilômetros de Castro e servia como sede da Fundação ABC, voltada às pesquisas agropecuárias para as Cooperativas Capal (Arapoti), Batavo e Castrolanda, na região dos Campos Gerais, no Paraná.
As terras onde estava instalada a Fundação são de propriedade da União, que, desde 30 de abril de 2014, aguardava a reintegração de posse. Isto é, através de medida liminar, a União reivindicou que a Fundação deixasse as terras, por ter encerrado período de comodato, segundo o MST.
O nome do acampamento é uma homenagem à jovem camponesa que chegou a liderar 10 mil caboclos durante a Guerra do Contestado (1912-1916). Maria Rosa e foi morta aos 16 anos, uma das milhares de pessoas a perder a vida na maior guerra civil camponesa da história do Brasil.
*Com informações da Agência de Jornalismo UEPG
Edição: Ednubia Ghisi