Primogênito da família, Jacob Barata Filho é quem comandava o Grupo Guanabara, até ser preso essa semana, acusado de pagar propina à políticos do Rio de Janeiro. Seu pai Jacob Barata, fundador do conglomerado, se afastou dos negócios em 2013, depois de uma cirurgia no coração e entregou ao filho mais velho o controle das empresas.
Não por acaso, Barata Filho também herdou o apelido de “O Rei do Ônibus”. Tal fama reflete o cenário de monopólio do setor. Hoje a família Barata possui uma frota de 6 mil ônibus, segundo informações do próprio Grupo Guanabara.
Para entender melhor o perfil do empresário, o jornal Brasil de Fato foi conversar com empregados das empresas de ônibus da família Barata.
“Esse patrão obriga a gente a trabalhar até doente”, diz o motorista enquanto dirige o ônibus da linha que liga o centro do Rio ao bairro de Santa Teresa. O trabalhador fala com certa dificuldade devido a uma tosse persistente.
Uma cobradora de ônibus conta que era um final de tarde quando Jacob Barata Filho apareceu de surpresa no ponto final das linhas de ônibus do Cosme Velho, bairro carioca que fica aos pés do Corcovado. “Ele desceu do carro, cercado de seguranças, e começou a gritar, perguntando por quê os ônibus não estavam circulando”, relata a cobradora.
Três motoristas aproveitaram a ocasião para perguntar ao empresário por que tinha tantos descontos na folha de pagamento “Um deles tinha recebido apenas R$ 200 naquele mês. Comecei a cantar: ‘lerê, lerê’, como os escravos antigamente”, lembra.
Jacob Barata Filho então quis saber quem era a trabalhadora. “Ah, ela é uma daquelas vagabundas do sindicato?”, teria dito o empresário, segundo relatos da militante sindical. “Respondi apenas que descontos abusivos em folha de pagamento configuravam em regime de escravidão”, afirma a trabalhadora.
O Brasil de Fato entrou em contato com a assessoria de imprensa do executivo. Em nota, o Grupo Guanabara informou que desconhece os casos relatados na matéria. De acordo com a assessoria, ao longo de seus 60 anos, o grupo tem se pautado pelas melhores práticas em suas relações de trabalho.
Contexto
Preso essa semana pela Polícia Federal, o empresário Jacob Barata filho é suspeito de pagar cerca de R$ 500 milhões de propina em troca de benefícios fiscais e de reajuste no valor da passagem, entre 2010 e 2016.
“A prisão de Jacob Barata é a constatação do modelo de transporte privado, explorador de pessoas mais pobres e sua consequente opção pela corrupção”, afirma José Abraão, do Movimento Passe Livre.
A investigação também mostra o envolvimento do ex-governador Sergio Cabral (PMDB) apontado como chefe do esquema. “Os pagamentos permaneceram mesmo após o término do segundo mandato do Cabral, até a prisão dele em novembro de 2016”, detalhou o procurador da República, José Augusto Vagos.
Edição: Vivian Virissimo