A historiadora Eliane Morelli Abrahão da Unicamp destaca que o alimento é central nas celebrações
O último santo junino a ser festejado neste mês foi São Pedro, na quinta-feira, dia 29. Junho se encheu de alegria com elementos tradicionais das festas de São João. E vai deixando saudade. Não faltaram comidas típicas, fogueiras, quadrilhas nos grandes eventos das cidades do Nordeste, na quermesse no salão da igreja ou no arraiá da família e das escolas. A festa milenar, que tem raiz histórica nos rituais de colheita, possui características diferentes em cada parte do país e foi se transformando ao longo dos anos. Mas permanece como uma manifestação cultural da nossa relação com o campo.
A historiadora Eliane Morelli Abrahão, da Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp, destaca que o alimento é central para essas celebrações. A festa junina é uma festa enraizada na cultura brasileira, que tem o alimento como um importante elemento de identidade. Por mais que as quermesses, essas festas estão ligados aos santos católicos, nem todas as quermesses tem mais, vai pensando na questão religiosas, é uma festa e muito associada ao alimento, que acaba sendo o signo da memória coletiva. Essas comidas típicas significam essa memória coletiva do nosso povo.
De acordo com Eliane, as comemorações juninas remontam ao século 12 e têm origem nas festas pagãs. Esses povos da antiguidade já acreditavam que a celebração à Deusa Juno, que era considerada a protetora do casamento, do parto e da mulher, proporcionariam fartas colheitas. A partir do século 12, a igreja católica começou a não ver com bons olhos essas festas populares que ocorriam na Europa e começou um processo de incorporação desses festejos vinculando ao calendário litúrgico.
No Brasil, o festejo junino está novamente associado a um processo de incorporação pela Igreja, pois indígenas já faziam rituais de celebração das colheitas. Além de europeus e indígenas, a matriz cultural dos festejos juninos também traz a marca africana.
A festa do boi do Maranhão é um exemplo dessa influência, como explica Rafael Domingos Oliveira, auxiliar de coordenação do Núcleo de Educação do Museu Afro, em São Paulo. Ele fala sobre o “couro de boi”, que é a capa que envolve a representação do animal com desenhos e bordados. “Muitos couros de boi remetem às tradições africanas, seja a partir das histórias, seja a partir da própria noção de máscara, porque o couro do boi tem uma função quase como uma máscara que é vestida durante o festejo, considerando que a máscara é uma presença muito forte também no continente africano.”, conta.
Além dessa influência africana, a presença negra se dá também nas toadas, na oralidade, nas músicas e nos instrumentos.
Edição: Camila Maciel