Festa do Livro

Flip 2017 terá mais vozes femininas e negras participando dos debates, conta curadora

Será a primeira vez que haverá mais mulheres compondo as mesas da festa que, este ano, homenageia Lima Barreto

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Festa Literária de Paraty de 2009
Festa Literária de Paraty de 2009 - Monica/ Flickr

Atualizado em 26/06/17, às 16h52 

 

Com um autor negro como homenageado, Lima Barreto, e tendo, pela primeira vez na história, mais vozes femininas do que masculinas participando dos debates — serão 24 mulheres e 22 homens na composição das mesas — a já tradicional Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) chega a sua 15ª edição com mais representatividade de gênero e raça.

O evento, que ocorrerá do dia 26 a 30 de julho, na cidade de Paraty, no Rio de Janeiro, reunirá autoras e autores nacionais e internacionais, como a ruandesa Scholastique Mukasonga, o vencedor do Man Booker Prize (2017) Marlon James e o americano e também vencedor do prêmio Paul Beatty. A mineira Conceição Evaristo, Natalia Borges Polesso, Jacques Fux, entre muitos outros.

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"O que a gente está propondo com essa Flip é um recorte que não é, de maneira nenhuma, o espelho do que existe no mercado editorial. Trata-se de um novo recorte, uma nova proposta de representação", comenta a curadora da Flip e pesquisadora Josélia Aguiar.

A inspiração para a edição deste ano, segundo Josélia, veio de campanhas como "Leia Mulheres" (read women), fomentada pela britânica Joanna Walsh, em 2014, no Reino Unido, que buscava incentivar a leitura de obras de mulheres, em contraposição ao mercado editorial, que não lhes proporcionava visibilidade. Outra iniciativa inspiradora para a edição da feira foi o "Vidas Negras Importam" [Black Lives Metter], que surgiu nos Estados Unidos com o intuito de se contrapor à violência policial e hostilidade sofrida contra negros e negras e para ressaltar fato de que as vidas negras têm valor.

Homenageado do ano e grandes autores

"Não há muito tempo, em dias de carnaval, um rapaz atirou sobre a ex-noiva, lá pelas bandas do Estácio, matando-se em seguida. A moça com a bala na espinha, veio morrer, dias após, entre sofrimentos atrozes". Esse trecho é de uma crônica de 1915 escrita por Lima Barreto, o homenageado na Festa Literária de Paraty (FLIP) deste ano, abordando o tema do feminicídio no início do século 19.  A crônica intitulada "Não as matem" é parte da publicação "Vida Urbana", uma coletânea de crônicas e artigos do autor publicada em 1953.

A curadora da Flip, Josélia Aguiar, explica sobre a escolha deste autor, que "escreveu sobre diversos gêneros" e mantinha uma "visão da sociedade brasileira que é muito atual".

"Lima Barreto me interessa há uns cinco anos por causa do projeto de um livro, que já está praticamente pra ser lançado, que é a biografia do Jorge Amado. Ele muito jovem adorava o Lima Barreto. Então, eu tive que ler Lima Barreto e as conexões entre eles", conta Josélia.

Josélia reforça que a expectativa para o evento é grande e ressalta a importância de trazer cada vez mais autores e autoras de diversos países, gêneros e abordagens para um evento da magnitude da Festa: "A história da Flip é muito bonita, de uma festa literária que ajuda a pautar a literatura, que trouxe grandes autores e autoras, inclusive grandes autores negros e negras, como a escritora [estadunidense] Toni Morrison e, no ano passado, Svetlana Aleksiévitch, prêmio Nobel". 

Edição: Vanessa Martina Silva