Ao propor a final da Libertadores em partida única e campo neutro, já para 2018, a Conmebol demonstra ignorar completamente as limitações econômicas e logísticas que o torcedor sul-americano enfrenta, bem como a cultura das arquibancadas locais. A proposta, que emula o padrão europeu, não passa de um projeto que apreende o futebol do ponto de vista do dinheiro.
A América do Sul é muito diferente da Europa. O povo europeu não tem mais a mesma qualidade de vida da época do Estado de Bem-Estar Social, mas desfruta de uma infraestrutura de transportes e um nível médio de renda melhores que os nossos – o que naturalmente facilita o deslocamento entre cidades. Além disso, as distâncias europeias são inferiores às nossas. Ainda mais importante, porém, é a relação torcida-estádio. Na Europa, a final única acontece desde a primeira edição do torneio continental. Naquele ambiente cultural, vale mais a organização do espetáculo que a festa da arquibancada.
Já por aqui, todas as finais de Libertadores, nas últimas décadas, tiveram jogos em cada um dos estádios dos times adversários e a emoção da torcida nas tribunas importa tanto ou mais do que o jogo em si. Já pensou não poder ver o seu time jogando a final da Libertas no seu estádio? Já pensou ter que viajar quilômetros e pagar caro para ver seu time na única final? Já pensou dar adeus às finais épicas de ida e volta, nas quais ou o time da casa faz uma festa sem fim ou os poucos torcedores visitantes calam uma multidão?
A Conmebol conhece a situação, mas faz pouco caso. Para ela, interessa arrecadar mais dinheiro, seja lá como for. Por isso querem fazer da final um espetáculo caro, de preferência numa cidade turística, como admitem sem pudor os dirigentes. Envergonha tanto ou mais do que a postura dos cartolas da Confederação aquelas dos cartolas dos clubes. Praticamente nenhum presidente dos times do continente se colocou contra o projeto.
A medida da Conmebol, se acatada, afastará ainda mais o torcedor pobre dos estádios. No Brasil, o público nas arenas não é o mesmo daquele das velhas bancadas de concreto, mas o resto do continente ainda resiste à elitização. A Conmebol pode começar a colonização europeia do futebol sul-americano.
Edição: Wallace Oliveira