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Em Conceição do Mato Dentro (MG), moradores são ameaçados pela Anglo American

Em ação popular eles questionam atuação da mineradora e pedem mais transparência nas atividades da empresa

Conceição do Mato Dentro |

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Lavrador Lúcio da Silva Pimenta, um dos desalojados pela Anglo American
Lavrador Lúcio da Silva Pimenta, um dos desalojados pela Anglo American - Joana Tavares / Brasil de Fato

Apesar de ter os documentos que comprovam que é proprietário da terra onde vivia, o lavrador Lúcio da Silva Pimenta (51) teve que deixar a sua casa, já que o terreno estava  em área de “servidão minerária”, ou seja, em área de interesse da Anglo American. Lúcio atualmente mora em um galpão isolado, próximo da estrada da cidade. À noite, se esconde no mato para dormir, pois tem medo do que pode acontecer com ele, desde que foi um dos autores de uma Ação Popular impetrada contra a mineradora.

Na ação, Lúcio e mais 4 pessoas em conflito com a mineração pediram o cancelamento da audiência pública, solicitada pela Anglo American. Na audiência seria apresentada  a proposta de ampliação das atividades da empresa, como a expansão de 12 km na cava da Mina do Sapo e o alteamento da barragem de rejeitos. A expansão faz parte do processo de ampliação do projeto Minas-Rio. 

O projeto é um dos maiores empreendimentos minerários do mundo. Ele começa com a extração do minério de ferro em Conceição do Mato Dentro e corta 32 cidades ao longo de 525 km até chegar no Porto Açu, em São João da Barra, no Rio de Janeiro. As atividades de exploração de minério em Conceição do Mato Dentro começaram em 2007, dois anos depois a Anglo American tomou posse do projeto Minas -Rio e do processo de exploração da cidade. 

Vanessa Rosa Santos, outra autora da ação coletiva, recebeu em sua casa um bilhete “Já sabemos. Foi você. É a próxima”. Ela foi hostilizada nas ruas da cidade e recebeu ameaças de um fazendeiro. Vanessa e seu marido, Reginaldo Rosa dos Santos, também autor da ação, tiveram que deixar a casa onde viviam, na comunidade Cabeceira do Turco. A estrutura da casa estava comprometida com os tremores causados pelo mineroduto. Na zona rural, eles criavam peixes, galinhas, porcos, além de hortas e outras plantações. Agora, morando em um apartamento alugado pela mineradora,  Vanessa espera ter de volta um lar, como tinha antes.

Elias Souza, também autor da Ação Popular, foi agredido fisicamente na frente de seus filhos pequenos. Não foi a primeira vez. Após a agressão física e psicológica ele enfrentou problemas de saúde e ficou um tempo internado em Belo Horizonte.  No dia seguinte à decisão de suspender a realização da audiência pública solicitada pela Anglo, o quinto autor da ação, Lúcio Guerra Júnior, recebeu inúmeras ameaças, em grupos de WhatsApp e também ligações de uma suposta empresa funerária.

Além da ameaça aos moradores, as ações da mineradora na cidade, também causaram grandes perdas para o meio ambiente. Conceição do Mato Dentro, que abriga a terceira maior cachoeira do Brasil, já perdeu dois de seus córregos por causa das atividades da mineradora. 

Em resposta às acusações de ameaça aos moradores, a Anglo American declarou que “é severamente contra a violência de qualquer forma e não tem nenhuma conexão com as ameaças”. Informou ainda que a empresa, vem cumprindo todas as condicionantes do processo de licenciamento do Minas-Rio. No entanto, afirmou que durante a implantação da Fase 1 do empreendimento, dois cursos d’água da região, Córregos Pereira e Passa Sete, sofreram impactos, com alteração na quantidade e qualidade da água. 

Sobre os casos de ameaça aos moradores de Conceição do Mato Dentro, os Ministérios Público Estadual e Federal se reuniram com os autores da ação para ouvir as denúncias. O MPE solicitou a inclusão das lideranças no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos e instaurou um Procedimento Investigatório Criminal na Promotoria de Justiça para apurar o caso. 

Edição: Edição Minas Gerais