Rodrigo Santos Rocha Loures (PMDB) foi um dos nomes mais citados no noticiário brasileiro esta semana. Pivô do escândalo que abalou o governo Michel Temer (PMDB) na noite da última quarta-feira, a partir da delação dos donos da JBS à operação Lava Jato, o deputado federal teria sido indicado pelo presidente da República para receber propina e favorecer a empresa.
Apenas divulgada a notícia, o advogado do parlamentar, José Luis Oliveira Lima, lançou uma nota oficial: "Tão logo se conheça o teor da investigação, todos os esclarecimentos devidos serão apresentados". A situação de Rocha Loures complicou de vez quando, na mesma noite, descobriu-se que o Supremo Tribunal Federal (STF) teve acesso a um vídeo em que o deputado é flagrado recebendo uma mala com R$ 500 mil enviados por Joesley Batista, da JBS.
O Rodrigo fez um belíssimo trabalho em atenção a todo o Brasil (Michel Temer)
Segundo a delação de Joesley, o deputado teria aceitado receber aquela quantia semanalmente pelos próximos 20 anos. Em troca, chegou a oferecer à JBS cargos estratégicos no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), na Comissão de Valores Monetários (CMV), no Banco Central e na Procuradoria Fazendária Nacional.
Família tradicional paranaense
Pelo lado paterno, a família Rocha Loures remete aos clãs fundadores de Curitiba: Carrasco do Reis e Mateus Leme. Pelo lado materno, são descendentes de Joaquim de Almeida Faria Sobrinho, duas vezes presidente da Província do Paraná, de Lourenço de Sá Ribas, ex-presidente da Câmara de Curitiba, e de Didio Costa, deputado no Congresso Legislativo Paranaense e prefeito de Paranaguá na década de 1920.
Os Rocha Loures acumularam terras no final do século XIX com a abertura de caminhos pelos tropeiros na região de Palmas e Guarapuava, o que permitiu estabelecer laços com os “donos do poder” nos municípios do interior. Após a revolução de 1930, enquanto parte da família migra para Curitiba, o clã passa a se concentrar em maior número em Londrina, Norte paranaense, assumindo cargos no Judiciário, na imprensa escrita e em cartórios locais.
Nascido em Curitiba há 50 anos, o deputado estadual do PMDB é filho de Rodrigo Costa da Rocha Loures, fundador da empresa alimentícia Nutrimental em 1968 – aquela, das barrinhas de cereal.
A Nutrimental foi uma das quatro fornecedoras investigadas durante o governo Fernando Collor por suspeita de superfaturamento na venda de merenda escolar, em 1989. Após o cancelamento do contrato com o governo, a empresa mergulhou em uma crise da qual só conseguiu sair quando se dedicou ao mercado de consumo e se tornou uma das líderes de venda no varejo brasileiro.
Primeiras suspeitas de fraude
Ex-professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), o pai do parlamentar investigado na Lava Jato é vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), esteve à frente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP) de 2003 a 2011 e preside, até o final do ano, o Conselho Superior de Inovação e Competitividade (Conic) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), uma das entidades apoiadoras do golpe de 2016.
Nos anos em que foi presidente da FIEP, Rodrigo Costa da Rocha Loures chegou a ser indiciado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) por supostas fraudes na gestão. A maioria delas, segundo o TCU, eram relacionadas a “despesas amparadas em documentos inidôneos (...), que teriam beneficiado funcionários das entidades sem comprovação da prestação de serviços”, além de “repasse de R$ 265 mil e R$ 561 mil ao Instituto Paraná de Desenvolvimento (IPR), presidido por Rodrigo da Rocha Loures, sem qualquer comprovação de despesas” e de “ressarcimento de despesas pessoais da filha de Rodrigo Rocha Loures, Larissa, tais como faturas telefônicas, restaurante, táxi; diversos pagamentos à empresa LWL Comunicações, de propriedade de Luiz Henrique Weber e Luciana Rocha Loures, sobrinha de Rodrigo; despesas com viagens para Cleveland [nos Estados Unidos] para Luciana, sem comprovação de despesas ou justificativas; pagamento de passagens aéreas com destino ao Canadá para Dídio Costa Rocha Loures, irmão de Rodrigo, entre outras”.
O ex-presidente da FIEP sempre negou as acusações. O parecer final do processo, embora não comprove a inocência de Rodrigo Costa da Rocha Loures em todos os casos, permitiu que ele continuasse exercendo cargos daquela natureza.
Homem de confiança
Rodriguinho, o filho, além de executivo e um dos herdeiros da Nutrimental – que mantém uma média de faturamento anual de R$ 280 milhões – passou a ocupar cargos públicos no Paraná em 2003. Por dois anos, foi chefe de gabinete do então governador Roberto Requião (PMDB). Ao deixar o gabinete, tornou-se vice-tesoureiro nacional do partido. Eleito deputado federal em 2006, foi o vice-líder do bloco PMDB, PSC e PTC na Câmara, durante o segundo governo Lula (PT).
Foi naquela época que o vínculo com Michel Temer tornou-se mais estreito. O então vice-presidente da República escolheu Rocha Loures para chefiar seu gabinete em 2011. O paranaense exerceu o cargo até o final do primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT).
Em uma conversa entre um fiscal e um funcionário da Seara, do grupo JBS, gravada pela Polícia Federal no âmbito da operação Carne Fraca, Loures é citado como “braço direito” de Temer.
Quando Temer nomeou o então deputado federal ruralista Osmar Serraglio (PMDB-PR) como ministro da Justiça, em 7 de março, possibilitou que Loures, primeiro suplente do PMDB do Paraná, voltasse à Câmara e obtivesse, novamente, foro privilegiado.
Se o atual presidente da República questiona a qualidade dos áudios gravados por Joesley Batista e alega inocência no caso JBS, a proximidade com Rocha Loures, o homem da mala de R$ 500 mil, é um elemento indiscutível. Em julho de 2014, Michel Temer gravou um vídeo elogiando a atuação de Rocha Loures: “Ele veio aqui para o meu gabinete e me ajudou enormemente. Aliás, ele aqui operava não só auxiliando a mim no Brasil todo, mas basicamente como uma espécie de embaixador do Paraná. (...) O Rodrigo fez um belíssimo trabalho em atenção a todo o Brasil”.
Aos abraços com João Doria
Quando o escândalo veio à tona no Brasil, Rocha Loures estava em Nova Iorque. Fora convidado para um jantar de gala, onde seria entregue ao prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), o prêmio Person of the Year (Personalidade do Ano), pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos.
Rocha Loures esteve com Doria em diversas ocasiões, inclusive como participante em eventos promovidos pela organização Lide, encabeçada pelo prefeito de São Paulo – por exemplo, no 16º Fórum Empresarial, em Foz do Iguaçu. Em uma foto postada nas redes sociais antes do escândalo, o parlamentar paranaense descreve Doria como “amigo”.
O deputado desembarcou no Brasil hoje (19) pela manhã aos gritos de “ladrão”.
Próximos passos
O ministro do STF, Edson Fachin, determinou o afastamento de Rodrigo Rocha Loures do cargo na Câmara Federal. A Procuradoria-Geral da República pediu a prisão do paranaense no dia seguinte (18).
Além dos manifestantes favoráveis à condenação de Rocha Loures, estava no saguão do aeroporto um dos advogados de defesa, Daniel Kignel, que informou à imprensa que precisaria conversar com o parlamentar para definir os próximos passos.
Em sua conta oficial no Facebook, João Doria afirmou que “a única certeza, neste momento, é que temos que ter serenidade e respeito à Constituição para protegermos o Brasil”. A reportagem tentou entrar em contato com o deputado Rocha Loures, mas não obteve retorno.
Fonte: CRUZ, K. M.; VANALI, A. C. Um exemplo de old money no Paraná: a família Rocha Loures. Revista Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v.2, p. 1-26, de maio de 2016.
Edição: Redação BdF Paraná