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A maldição do Corpo Seco e o Dia das Mães

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Mouzar Benedito conta a lenda do Corpo Seco, do folclore brasileiro, que um dia bateu na mãe e foi amaldiçoado por isso
Mouzar Benedito conta a lenda do Corpo Seco, do folclore brasileiro, que um dia bateu na mãe e foi amaldiçoado por isso - Arquivo/Agência Brasil
Devia ter maldição para governo que persegue trabalhadores

Dia das Mães. Beleza! Quem não acha que elas merecem? Só que quem mais espera e festeja a data é o comércio. Natal, dia dos pais, dia dos namorados, Páscoa. Já tentaram criar até o dia da sogra, mas não pegou. Se pudesse, o comércio transformaria cada dia do ano em uma data para presentear alguém, com presentes cada vez mais caros, para dar lucro aos comerciantes.

Reconhecer a importância dos homenageados em cada data torna-se uma mera desculpa para que as pessoas se sintam obrigadas a presentear alguém, gastar até o que não podem. A publicidade se encarrega de fazer com que os homenageados fiquem na expectativa de ganhar presentes e os outros se sintam obrigados a dar.

Bom, não estou aqui pra falar do comércio e da publicidade que o estimula. Dia das Mães é Dia das Mães! Quem é contra? Mas gosto de ver uma espécie de lobby que faz com que a maternidade seja vista como algo divino. As próprias mães estimulam isso.

Eu tive um parente distante que ficou rico ganhando várias vezes na loteria. Ele não jogava sempre, mas toda vez que jogava, ganhava. E minha mãe dizia que ele ficou rico porque tratava muito bem a mãe dele. Desde criança era ele que a sustentava e fazia de tudo para que ela ficasse bem. Daí a sorte que tinha: foi abençoado por Deus. E tem o contrário: o filho mau, amaldiçoado. Concordo: filho que maltrata a mãe é muito ruim mesmo.

No folclore brasileiro tem um personagem que um dia bateu na mãe. E foi amaldiçoado por ela. Quando morreu, nem a terra aceitou esse sujeito mau. Enterrado, a terra o cuspiu para fora da cova. Morto-vivo, ele não tinha como se alimentar. E ficou só pele sobre ossos. É o Corpo Seco, condenado a vagar pelo mundo, aparecendo nas encruzilhadas às seis horas da tarde e à meia-noite, assustando e provocando medo em quem o vê. Mas tem um lado bom: faz aumentar o sentimento em favor das mães.

Quando criança, ouvi mulheres contando a história do Corpo Seco e a conclusão ameaçadora delas:

― Tá vendo o que dá não ser um bom filho?

Devia ter uma maldição dessa para patrão que explora demais os empregados e governo que persegue trabalhadores e governa para os ricos.

Quantos Corpos Secos a gente encontraria por aí! Ou talvez eles seriam menos ruins para evitar a maldição, não é?

 

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