A Greve Geral de 28 de abril foi "muito exitosa", na avaliação de Jandyra Uehara, da Executiva Nacional da Central Única de Trabalhadores, contando com a paralisação de diversas categorias já mobilizadas, "e inclusive setores menos mobilizados", segundo a dirigente. Para ela, a greve "muda o patamar de luta política e social no Brasil, intensificando e radicalizando as lutas a partir de agora".
Em entrevista à Radioagência Brasil de Fato, Uehara considerou ainda que a greve "não foi o pico máximo da luta, que ainda está por vir com a derrota cabal das reformas e do governo golpista". A dirigente da CUT anunciou o Ocupa Brasilia, uma mobilização de diversos movimentos populares do país na capital brasileira, prevista para acontecer no próximo dia 24 de maio.
Uehara informou que durante a ocupação será anunciada a data da próxima greve geral, "que será muito mais forte ainda do que essa do 28, que já foi a maior greve geral que já aconteceu neste país".
Confira a entrevista na íntegra:
Brasil de Fato: Qual é a avaliação que a CUT faz da Greve Geral do dia 28 de abril?
Jandira Uehara: A Greve Geral do dia 28, 100 anos depois da primeira greve geral no Brasil, e 20 anos depois da última, em 1996, foi uma greve muito exitosa, que realmente paralisou diversas categorias profissionais organizadas, e também aqueles setores menos organizados. É uma greve que muda o patamar da luta política e social no país. Nós devemos entrar agora num período de intensificação da luta sindical, das lutas sociais, também de uma radicalização maior, uma vez que essa greve em que conseguimos paralisar aproximadamente 35 milhões de trabalhadores teve um grande apoio popular. E isso foi fundamental. Veja você que nesses processos de greve, muitas vezes você tem a população não compreendendo os reais motivos da greve, e às vezes com posições contraditórias, mas dessa vez não, o apoio popular foi fundamental. Então estamos passando para um outro patamar. A classe trabalhadora, o povo brasileiro, já estão conscientes de que nós sofremos um golpe, e que precisamos reverter esse golpe na luta de rua.
Qual o impacto que a Greve Geral teve na correlação de forças e na luta contra a aprovação das reformas da Previdência e trabalhista?
Nós achamos que a Greve Geral do 28 realmente impactou na correlação de forças. E não foi o pico máximo da nossa luta, acho que esse ainda está por vir e será com a derrota cabal dessas reformas e desse governo golpista. Mas sem dúvida nenhuma, esse dia 28 abre as possibilidades cada vez mais concretas de derrotar essas reformas e de derrotar o governo Temer.
Embora a imprensa, os grandes meios de comunicação, a mídia golpista tenha tentado o tempo todo minimizar e cobrir de uma forma tendenciosa, na imprensa internacional é possível ver a repercussão enorme que teve.
Nós fizemos uma greve muito forte no setor de transporte. Porém, em estados como o Rio de Janeiro, onde o transporte funcionou normalmente, a Greve Geral aconteceu. Isso impacta na correlação de forças, este governo está caindo de podre, está muito vulnerável nas pesquisas e na instabilidade toda que está colocada no país e deve, por isso mesmo, tentar ser cada vez mais agressivo na aprovação das reformas. Portanto a tendência da nossa luta, a partir do patamar dessa greve geral, é crescer ainda mais pra que a gente possa ter, em breve, uma outra greve ainda mais forte e decisiva.
Uma questão muito relevante é o aumento muito grande da repressão nessa greve em todos os locais, e em alguns estados de uma forma muito violenta. E não foi uma simples repressão, no caso do Rio de Janeiro foi um cerco pra aniquilar o movimento, um movimento absolutamente pacífico. Houve uma caçada aos manifestantes. O grau de repressão aumentou muito, e nós temos que ter uma reação muito forte de denúncia a essa situação. Isso tem relação com o próprio crescimento do movimento e como eles querem impedir que essas manifestações e greves cresçam ainda mais. Esta é uma questão que nós devemos enfrentar com muita contundência.
Quais são os próximos passos que a CUT e a Frente Brasil Popular estão preparando?
O que nós já encaminhamos aqui na CUT é a questão da ocupação em Brasília, do Ocupa Brasília, no próximo dia 24, que é quando deve entrar em pauta no plenário a reforma da Previdência. Então a gente deve centrar toda a nossa energia para essa grande ocupação em Brasília. E durante essa ocupação nós vamos estar anunciando e convocando a nossa próxima greve geral, que deve acontecer num curto espaço de tempo.
Fora isso, o que nós precisamos fazer é intensificar a pressão sobre os deputados. Porque isso também está fazendo bastante efeito. Alguns acabaram mudando seu voto na reforma trabalhista por conta da intensa pressão que está acontecendo nos estados. Então essa pressão tem que continuar, e concentrarmos todas as nossas energias nessa ocupação em Brasília. Ainda vamos decidir junto com as outras centrais e com as frentes, os detalhes dessa mobilização, e anunciar a nossa próxima greve geral, muito mais forte ainda do que essa que já foi a maior que já aconteceu neste país.
Edição: José Eduardo Bernardes